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Temas para o Podcast Mórmon

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© 2000, Cleoton Biehl.

© 2000, Cleoton Biehl.

No mês passado, a ABEM e o site Vozes Mórmons lançaram o Podcast Mórmon – um programa ao vivo pela internet sobre assuntos relacionados ao mormonismo, em que todos podem participar com perguntas e comentários. Que assuntos você gostaria de ver tratados nos próximos Podcasts? Queremos ouvir a sua opinião.


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Primeiro de Abril

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01 de abril de 2014. Esta data entrou para a história do Mormonismo no Brasil, e talvez no mundo.

Orson Wells anuncia para o mundo a descoberta da Zarahemla

Orson Wells anuncia para o mundo a descoberta da Zarahemla

O diretor americano Orson Wells, repetidamente eleito como um dos melhores cineastas na história do cinema, adaptou a novela ‘Guerra dos Mundos’ de H.G. Wells para o rádio em 1938. Em seu primeiro episódio, em 30 de outubro, a primeira metade da encenação consistia em boletins de noticiário cobrindo a fictícia invasão da Terra por alienígenas de Marte. Apesar do aviso no início do programa, muitos ouvintes pegaram o show já em andamento, e uma parcela deles acreditaram no que ouviam como se fôra noticiário normal, resultando em um pequeno pânico público. Centenas de pessoas ligaram ansiosas para as estações da CBS para confirmar as notícias, e nos dias seguintes, para reclamar de haverem sido enganadas.

Da mesma maneira que 30 de outubro de 1938 entrou para história do rádio, este 01 de abril p.p. entrou para a história do Mormonismo. O site Vozes Mórmons publicou uma brincadeira de Primeiro de Abril que se espalhou rápidamente (viralizou, como se diz em internetês) enganando dezenas de milhares de Mórmons no Brasil e mundo afora. Até o presente momento, mais de 27 000 pessoas acessaram o artigo, com quase 10 000 compartilhamentos na rede social Facebook e mais de 30 000 visualizações por lá, tornando-a a “pegadinha” Mórmon mais bem-sucedida no Brasil e talvez no mundo (se alguém souber de uma que tenha conseguido maior divulgação e penetração, comente dela abaixo, por favor).

Piadas bem-sucedidas à parte, o que realmente permanece de importante são as questões levantada por este episódio. Por que a brincadeira foi tão crível? Como os Mórmons brasileiros reagiram? O que suas reações dizem a respeito da cultura Mórmon? Quais conceitos científicos podem iluminar nosso entendimento dele?

“O teste de uma boa religião é se pode-se fazer piadas com ela.” ― G.K. Chesterton (Escritor, filósofo, e apologista Cristão… influente na conversão de C.S. Lewis, apologista queridinho dos profetas SUD)

Ninguém nunca fica feliz ao cair numa brincadeira ou pegadinha. Muitas pessoas acham graça de fazer (ou assistir) outras pessoas caírem em brincadeiras ou pegadinhas. Existem motivos psicológicos e neuro-cognitivos específicos e claros para isso, e não, não é hipocrisia ou falta de caráter. Consideremos uma breve introdução a alguns dos conceitos científicos e lógicos mais conhecidos e melhor estudados antes de analisar o comportamento dos Mórmons diante desta brincadeira recente.

 

Viés de Confirmação

Viés de Confirmação é um fenômeno reflexo de neuro-cognição através do qual pessoas tendem a prestar mais atenção a informações que confirmem suas crenças, opiniões, ou hipóteses e ignorar informações que as contradigam. Leitura, busca, interpretação ou até memória enviesada reforçam tais crenças por ressaltar quaisquer dados confirmatórios (mesmo os insignificantes ou irrelevantes) e ignorar os desconfirmatórios (descaracterizando-os, invalidando-os, ou simplesmente ignorando-os), podendo resultar em um aumento de Polarização de Atitudes (ver abaixo) e Ilusão de Compreensão (ver abaixo).

Polarização de Atitudes

Polarização de Atitudes é o fenômeno psicológico através do qual pessoas aumentam sua confiança e certeza em suas crenças ou opiniões quando oferecidas informações e evidências neutras (ambíguas) ou contraditórias, ao invés de racionalmente re-considerar suas posições iniciais. Este fenômeno ocorre, em grande parte, como consequência de como tais pessoas abordam as evidências (i.e., sob viés de confirmação).

Ilusão de Compreensão

Ilusão de Compreensão é o fenômeno neuro-cognitivo através do qual pessoas experimentam sensações de elação através da falsa percepção de compreensão de determinado assunto ou tema. A sensação de regozijo está presente mesmo quando confrontado com informações contraditórias por causa do viés de confirmação.

Pensamento de Grupo

Pensamento de Grupo é o fenômeno psicológico coletivo onde um grupo de pessoas incentivam harmonia ou conformidade como maneira de evitar conflitos ou dissonância, resultando em ideações ou pensamentos coletivos irracionais, disfuncionais, ou distópicos. O fenômeno é estruturado e reforçado através de mecanismos sociais como Pressão de Grupo, Coesão de Grupo (i.e., nós contra eles), supressão de opiniões divergentes, imposição de lealdade, e isolacionismo.

Condicionamento de Thorndike

Condicionamento de Thorndike, ou a Lei de Efeitos, é o fenômeno neuro-cognitivo através do qual comportamentos são condicionados através de repetidas exposições a consequências imediatas. Consequências agradáveis ou prazerosas tendem a incentivar a repetição de determinados padrões de comportamentos, enquanto consequências desagradáveis ou desprazerosas coibam subsequentes comportamentos. Este fenômeno é fundamental na modelagem de Pensamento de Grupo. (Ver Edward L. Thorndike)

Reforço de Skinner

Reforço de Skinner é uma expansão do conceito de Thorndike, através do qual o processo de repetição — e exposição repetida — a estímulos condicionadores amplificam exponencialmente seus efeitos sobre comportamento, inclusive modulando até crenças e modos de pensamentos. (Ver B. F. Skinner)

Obediência de Milgram

Obediência de Milgram é o fenômeno psicológico através do qual indivíduos se sentem aliviados de suas próprias consciências ou considerações pessoais de ética ou moralidade quando expostas à figuras de autoridade, mesmo quando estas lhe forçam instruções que violem suas crenças, opiniões, ou ética pessoais. Posto doutra maneira, pessoas disponibilizam com naturalidade suas crenças e opiniões mais íntimas quando confrontadas com o desconforto de ter que desobedecer ou se opor à uma figura de autoridade. (Ver Stanley Milgram)

Efeito de Forer

Efeito de Forer é um fenômeno psicológico através do qual pessoas tendem a buscar encaixar-se pessoalmente em quaisquer descrições vagas e generalizadas sobre si mesmas, desde que seja positivo e enaltecedor, sem qualquer valor de correlação. Consequentemente, indivíduos buscam informações que as façam sentir-se boas, inteligentes, morais, éticas, e sábias, mutilam as informações existentes para que as pareçam dizer isto, ou ignoram as informações negativas ou contrárias. (Ver Bertram R. Forer)

Dissonância Cognitiva

Dissonância Cognitiva é um fenômeno psicológico através do qual indivíduos sentem desprazer e dor ao se confrontar com duas crenças, ideias, ou ideais mutuamente conflitantes. Consequentemente, quando assim confrontados, o instinto natural das pessoas é sempre reduzir ao máximo a dissonância ao evitar expor-se a informações que possam resultar em informações conflitantes, deturpar ou ignorar uma ou mais informações conflitantes, ou simplesmente negar sua existência. (Ver Leon Festinger)

Argumentum ad Hominem

Argumentum ad Hominem é uma falácia lógica não-estrutural que consiste em vilipendiar o autor de alguma informação ou argumento que produza dissonância cognitiva apenas para descreditar a informação ou o argumento e possibilitar ignora-los, sem quaisquer ponderações sobre a validade da informação ou do argumento em si mesmas.

 

Esta é uma lista certamente não exaustiva de lida psicológica diante de aflição psico-cognitiva. Quem se lembrar de mecanismos ou táticas não discutidas aqui, por favor incluam-nos nos comentários abaixo, com breve descrição ou explanação para o benefício de todos.

É importante salientar que todos estamos expostos e vulneráveis a estas abordagens reacionais e irracionais, pelo simples fato de construção neuro-arquitetural. A importância de se discutir, explorar, e ilustrar tais desvantagens neuro-cognitivas é, justamente, aprender a estarmos mais conscientes deles e, dentro de limite do possível, em controle.

Reações Mórmons

Havendo discutido alguns dos mecanismos psicológicos pelos quais todos nós enxergamos o mundo, e que todos precisamos sobrepujar para levar uma vida mais ponderada e racional, ilustremos com reações concretas de Mórmons que leram a brincadeira em questão. Seria útil le-los com os critérios discutidos acima em mente, analisando quais destes mecanismos irracionais (e naturais) estão exibindo, como nós usamos os mesmos mecanismos episodicamente, e como eles poderiam ter reagido diferentemente se estivessem conscientes destes reflexos psicológicos.

Os comentários abaixo são retirados, sem edição (exceto um, que era longo e desconexo demais), daqui do site e do Facebook.

Como era de se esperar (embora ninguém aqui realmente acreditasse que a piada atingiria além dos nossos leitores usuais), muitos Mórmons perceberam imediatamente a piada.

Nem percam seu tempo. O link da matéria original dá num texto explicando sobre o dia da mentira. IÉ, IÉ! Pegadinha do Mallandro!!!

Impressionante como as pessoas acreditam cegamente nas notícias que encontram na internet.
Que essa sirva de lição.

Mas foi uma pegadinha de primeiro de abril bem legal. Como diria Silvio Santos: “bem bolado, bem bolado”.

Calma gente! O templo existe, os pesquisadores existem, mas foi exagerado um pouco pra virar uma brincadeira! Os contra que se acalmem, e nós, os “a favor” que demos risadas pois isso nao abala o nosso testemunho. bom dia a todos

qual a fonte ??? Nem o site oficial da igreja publicou isso ai, é por causa do 1º de Abril?

Seria legal se não fosse pegadinha de 1º de abril

A notícia é falsa. Se vc clicar no link da matéria original vai ver que é um texto sobre primeiro de abril! Eles publicaram essa matéria ontem no dia da mentira! Por favor, não a repassem mais!​

Coloca-se uma notícia dessas logo no dia 01 de abril!
Assim eu desconfio…
rsrsrsrsrsr

Feliz Dia da Mentira :-)

kkkkkkkkkkkkkk

As pessoas ainda criticam… Isso que dá serem crédulas, e não lerem o que é publicado, não usarem o raciocínio, e serem levadas somente pela emoção, aliás isso ocorre muito na igreja, basear crenças em achismos, ou em ouvi tal pessoa falar!

Infelizmente, a maioria dos Mórmons que leu o artigo — ou mais provavelmente, o título do artigo — acreditou na notícia… com entusiasmo.

MARAVILHOSO

​VEJAM QUE GRANDE DESCORBERTA

​Fico muito feliz com esta descoberta!​

CHUPA! !

​Toma

Show…

​Agora quero ver algumas pessoas falarem que o Livro de Mormom foi inventado…​

Não posso deixar de dizer “Ah, eu já sabia!”… Kkkk

​Ainda tem gente que diz q livro de mormom não é verdadeiro…​

A Igreja É Verdadeira​

Eu acredito, é um estudo sério,o futuro dirá!

​Mais comprovacoes da veracidade so Livro de Mormon.​Muito legal, não que sejam necessárias comprovações científicas, mas para quem só “acredita vendo”, pense melhor.​

mais uma prova para mostrar a veracidade de que A igreja de jesus cristo dos santos dos últimos dias é a única verdadeira

​”E todos os povos ouviram e saberam que isso é verdade!”​

​Para os que tb querem provas cientificas de O Livro de Mórmon está ai mais uma! mas eu particularmente já sei que ele é verdadeiro sem precisar de provas científicas porque eu já o li inteiro e o espirito testificou a veracidade do livro. , mas essas provas cientificas tb é boa para confirmar oque já sabemos. Como diz nas escrituras: “Não obtereis testemunho senão depois da prova de vossa fé”

Na verdade existem muitos outros resquícios arqueológicos nas Américas da presença do cristianismo mesmo antes dos colonizadores do velho mundo…

E muitos outros, quer tenham acreditado ou não a princípio, decidiram tomar ofensa e proferir condenações.

Quero fazer um alerta. (E talvez isso seja polemico, mas não importa). Trata-se de meu posicionamento a respeito do blog “Vozes Mórmons”. Desculpe pelo tom de exortação. Mas senti a necessidade de manifestar-me sobre este assunto… distorcem a verdade, omitindo fatos históricos, citando assuntos polêmicos com referencias equivocadas, distorcendo a ordem dos acontecimentos e debochando da verdade revelada. Quando esses sites são claramente identificados como “anti-mormons” – não há tanto problema – pois se percebe, de pronto, qual a intenção dos autores.

Brincadeira infeliz, por se tratar de um site em quem deveria preservar a verdade…. Sinto mas não confiarei mais neste site que manipula informações com um cunho que deveria refletir sempre a verdade. Adeus site.

Nao e falta de humor. E sim ter consciencia de que isso pode servir como um prato cheio para os anti-mormons, jah q muitos mormons desavisados estao postando em seus Facebook achando a ‘veracidade do Livro de Mormon. ‘ Te liga. Esse tipo de brincadeira eh sem senso nenhum e nao tem graca!

Nossa, mancada de vocês… Tem gente publicando e compartilhando no face, isso pode gerar muita confusão. Quando dizerem e publicarem que é mentira, não vão divulgar do mesmo jeito.
Repetindo, pode causar muita confusão. Principalmente quando se trata da crença religiosa. Brincadeira pode ser feita, só se quem for vitimado seja o autor.

Palhacada….site podre…

Em nossa crença não se brinca com assunto sério, tão pouco achamos importante um dia da mentira, Os fatos e pessoas do Livro de Mormon só estão começando vir a tona, Por ai ainda vem muito mais, Abração pra quem dizia que ers mentira.

q otario

Muito decepcionada com esse site. Como podem brincar assim com as coisas do Senhor? É realmente uma pena ver isso!

Pode isso? se for pegadinha do blog não tem graça nenhuma? isto pode afetar seriamente a vida de milhares de pessoas não é coisa de se brincar.

Já fazem piada com tanta coisa sobre a Igreja. As pessoas estão compartilhando em redes sociais, prestando testemunho em cima dessa informação. Isso só vai fazer os membros sejam mais ridicularizados. Quem não é membro vai dizer… Esses mórmons acreditam em tudo mesmo. Eu acho que assuntos que tratam do Evangelho não devem ser envolvidos em nenhum tipo de brincadeira. É desrespeito. Não se trata de qualquer religião, é a Igreja verdadeira. Só isso.

Por que sera que essa informação só esta rolando aí no Brasil? Aqui nos EUA a BYU não anunciou tal coisa não. Mesmo com a maior das boas intenções, mentiras com o nome da igreja podem desonrar o bom nome da igreja. Se o mentiroso for pego corre o risco de ser escumungado e proscessado!

Nem Jesus Cristo agradou a todos…porisso sempre haverá polemica em relação a verdade encontrada…se acharem as placas de ouro e mostrarem para esses idiotas que não acreditam em nada, tb não vão acreditar que o livro de Mórmon foi escrito atravez dessas placas…infelizmente é assim mesmo…

Independente de provas científicas, a verdade é que o Livro de Mórmon é verdadeiro.

Um comentário, contudo, merece destaque por tentar amenizar a avalanche de reações negativas e contextualizar dentro de um paradigma de crença e fé que ajudasse os Mórmons indignados a manter suas crenças e ainda assim reagir racional e coerentemente.

Triste imaginar que tantos irmãos(a) que se dizem “fieis membros da única e verdadeira igreja viva sobre toda a face da terra” necessitem tão desesperadamente de evidências históricas que comprovem a autenticidade ou não do livro de mórmon. Como se ruínas,pinturas rupestres,ou qualquer outra comprovação histórica fizessem qualquer diferença em relação a “Fé”. É por isso que fico chocado com os comentários negativos sobre a “brincadeira” do Marcello, afinal se amanhã ou depois fossem encontradas a Arca da Aliança, o cajado de Moisés ou as ossadas de Cristo isto mudaria a fé Cristã ? seria mais ou menos verdadeira?

Considerações

Embora muitos Mórmons tenham percebido, e até achado graça, na brincadeira, é indiscutível que muitos mais ficaram mal-humorados e ranzinzas com ela, reagindo com tristeza, hostilidade, agressividade e até rudez. Além disso, a maioria absoluta simplesmente caiu na brincadeira, acreditando na notícia falsa e passando-a adiante com efusividade, isto não obstante a nota de rodapé claramente demonstrar que o artigo era falso!

O falso artigo de 01/04/2014 trazia um link para esta página como referência da notícia. Quantos leitores acessaram-na? 2 035, de bem mais de 20 000 acessos, ou menos de 10%!

O falso artigo de 01/04/2014 trazia um link para esta página como referência da notícia. Quantos leitores acessaram-na? 2 074, de bem mais de 27 000 acessos, ou menos de 8%!

Isto talvez seja um dos dados mais intrigantes em todo este episódio.   Menos de 8% dos 27 000 acessos diretos ao artigo se deram o trabalho de checar a fonte da notícia para averiguar sua procedência. E isso sem contar nas dezenas de milhares de pessoas que leram o título e chamada da matéria no Facebook e passaram-na adiante sem sequer checar o artigo em si.

Seria muito fácil dispensa-los como preguiçosos ou ignorantes, mas a verdade provavelmente é um pouco mais complexa do ponto de vista psicológico.

A realidade é que na cultura Mórmon dá-se uma importância exagerada à autoridades. Obediência cega aos líderes sem questionamento é a palavra de ordem, o que condiciona Mórmons a atribuirem relevância máxima à pessoas em posições de autoridade. Lê-se num artigo que autoridades (experts) em arqueologia encontraram algo, então não cabe discussão.

Esta ênfase em obediência a autoridade é muito útil em coesão social e em sucesso nas carreiras profissionais, além de ser muito propício para Pensamento de Grupo. Neste, condiciona-se a não questionar opiniões coletivas, por mais absurdas que possam ser. Não existe exemplo mais claro, para Mórmons, que a historicidade do Livro de Mórmon. O Livro de Mórmon postula que os Ameríndios são descedentes de Israelitas pré-Babilônicos, e o condicionamento coletivo de Pensamento de Grupo impossibilita o indivíduo Mórmon de questionar esta postulação. Como não há nem uma única peça de evidência arqueológica, linguística, literária, biológica, genética, ou histórica que apoie tal postulado, esta crença gera uma quantidade exagerada de dissonância cognitiva quanto mais se enfatiza importância nela. Tamanha dissonância explicaria qualquer busca angustiada por alívio, na forma de informações novas que reduzam-na — assim como uma pessoa afogando se debate intensamente por uma bóia.

Esta foto está correndo pelas redes sociais esta semana antes da Conferência Geral. Quantos Mórmons não acreditaram que não é uma montagem?

Esta foto do lutador Anderson Silva está correndo pelas redes sociais esta semana antes da Conferência Geral. Quantos Mórmons não acreditaram que não é uma montagem?

O descuido para checar a procedência e relevância da notícia espúria é inteiramente compreensível por causa do viés de confirmação. Como se trata de uma notícia que confirma, ao invés de desconfirmar, uma crença pessoal importante e íntima — especialmente uma que gera grandes quantidades de dissonância cognitiva — não há realmente necessidade de checa-la. Sabe-se, intimamente, que é válida. Esta é, no final das contas, a natureza irracional e ilógica destes mecanismos psicológicos para redução de dissonância, confirmação da identidade de grupo, e do indivíduo (através do efeito de Forer).

Um observador neutro recomendaria reestruturação das crenças irracionais que causam tamanha dissonância cognitiva, mas além dos problemas pessoais (i.e., efeito de Forer e viés de confirmação), seria necessário, neste caso, vencer obstáculos coletivos enormes que, por serem coletivos, exponeciam-se. Pensamento de grupo, modelado por décadas de condicionamento e reforço, e estruturados por obediência à autoridade torna o paradigma quase que insuperável, ao menos em âmbito individual.

As reações, especialmente as negativas, oferecem ainda mais confirmação para os modelos psico-cognitivos construidos acima. Conflitados entre o forte desejo do viés de confirmação e repulsados pela dolorosa desconfirmação que apenas serve para ressaltar a sempre presente dissonância cognitiva, reduz-se-la através de polarização de atitudes reforçada por ilusão de compreensão, colorida com uma agressividade ad hominem para selar e isolar a dissonância o mais hermeticamente possível.

Infelizmente, o grande problema é que tais mecanismos psicológicos apenas apresentam uma ilusão de conssonância cognitiva e falsa sensação de harmonia coletiva. O grande problema de deserção na Igreja é apenas um sintoma desta desarmonia coletiva — e a resposta não é intensificar o pensamento de grupo e o foco em obediência a autoridades. A solução, complexa por natureza, incluiria uma reestruturação de paradigmas de modo a permitir maior flexibilidade intelectual e social e uma avaliação mais honesta, aberta, e auto-reflexiva, tanto do indivíduo, como do coletivo.

Enquanto se insiste nos modelos cognitivos antigos e ultrapassados, expõe-se os Mórmons a uma ingenuidade social e puerilidade intelectual que os deixa presas fáceis a todo tipo de embustes, mesmo os de Primeiro de Abril!

Conclusão

A brincadeira expôs algumas angústias e ansiedades latentes na comunidade Mórmon brasileira e, talvez por preencher esta lacuna, atingiu sucesso em se auto-propagar dentro da comunidade. Estas angústias e ansiedades têm raízes em falhas (pessoais e comunitárias) de treinamento e educação em pensamento crítico, raciocínio lógico, e auto-reflexão.

Leitura e educação em técnicas e abordagens acadêmicas e racionais, pensamento crítico, e mecanismos lógicos para lidar com estresse cognitivo focando em falhas de viés, falácias lógicas, e ilusões psicológicas ajudariam a remediar e reduzir tais angústias e ansiedades. Tal exercício poderia, até, ajudar a fomentar uma fé revigorada e mais saudável, tranquila numa coerência mais racional e lógica. Aqui seria um bom lugar para se começar.

Enquanto ponderamos os motivos e os significados desta brincadeira Mórmon de Primeiro de Abril, alguém poderia se voluntariar para inclui-la na lista de “peças do dia da mentira que ficaram famosas“?

 

 


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Aniversário: Ano 3

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O site Vozes Mórmons completa hoje seu Terceiro Aniversário!

Para comemorar, gostariamos de agradecer a todos que postaram textos e comentários, e que enviaram links para seus amigos dos textos e comentários.

Neste terceiro ano de existência, tivemos mais de 220 mil visitas (o dobro do segundo ano), e mais importante, várias discussões interessantes e inteligentes. Este fórum é aberto para todos Mórmons, de todos tipos, e todos que se interessam por Mormonismo, e de qualquer maneira, as opiniões e os comentários inteligentes e pertinentes sempre ajudam a aumentar o nível da conversa, e moldam o site tanto quanto os artigos em si.

Gostariamos, então, de fazer algumas menções a título de retrospectiva, para comemorar esse ano que passou. Umas listas de Top 10 de posts que marcaram o terceiro ano do Vozes Mórmons!

 

* Dez Posts Mais Visitados (Durante o Ano 3)

1) Profeta Mórmon Processado

2) Quanto Ganha um Apóstolo Mórmon

3) O que faz as pessoas se afastarem da Igreja?

4) Os 50 livros mais importantes sobre mormonismo até 1980

5) A relação entre mormonismo e maçonaria

6) Frases favoritas

7)  O Shopping de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias

8) Raça e Sacerdócio: publicação oficial da Igreja aborda fatos antes ignorados

9) Para setenta, terra tem 6 mil anos!

10) Mórmons, maçons e anti-maçons

 

* Dez Posts Mais Visitados (Publicados no Ano 3)

1) Profeta Mórmon Processado

2) Raça e Sacerdócio: publicação oficial da Igreja aborda fatos antes ignorados

3) Para setenta, terra tem 6 mil anos!

4) Templo no Rio de Janeiro

5) Os 9 Apóstolos

6) Missionárias terão chamado de liderança

7) Há abuso nas entrevistas?

8) Quanto Ganha um Apóstolo Mórmon? (Parte 2)

9) Progresso entre reinos – parte I

10) A escola dominical: o casamento e a homossexualidade

 

* Dez Posts Mais Comentados

1) O que faz as pessoas se afastarem da Igreja?

2) Quanto Ganha um Apóstolo Mórmon

3) O Shopping de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias

4) Raça e Sacerdócio: publicação oficial da Igreja aborda fatos antes ignorados

5) Como voltar à igreja?

6) Profeta Mórmon Processado

7) Mórmons, maçons e anti-maçons

8) Quantos Mórmons no Brasil – 2

9) Mãe Celestial redescoberta?

10) Dança dos Apóstolos

 

* Menções Honrosas

1) Arqueologistas Descobrem Cidade Nefita

Desde o terceiro dia de existência do site Vozes Mórmons, o post O que faz as pessoas se afastarem da Igreja? sempre foi o artigo mais lido do site. Esta semana, o artigo acima (uma óbvia pegadinha de Primeiro de Abril) viralizou e em menos de 24 horas ultrapassou o anterior no posto de mais lido de todos os tempos. Por tratar-se de uma brincadeira, não entrará na contagem de artigos mais lidos oficialmente, apesar dos mais de 27 mil acessos em menos de três dias.

2) Por Que Rapazes Fazem Missão e Moças Fazem Bolos?

Além de ser o primeiro artigo escrito por uma adolescente menor de idade, e além da excelente qualidade intelectual, filosófica, social e espiritual do texto, este foi a estréia de um(a) autor(a) no site Vozes Mórmons a atingir 1000 visualizações mais rápido.

 

 

Estamos particularmente felizes de ver quantas pessoas abraçaram a curiosidade de conhecer Mórmons de outras tradições e como há diálogos entre participantes do site, inclusive de igrejas Mórmons diferentes.

Aproveitando,  gostaríamos de deixar duas perguntas para vocês na seção de comentários:

1) Qual o seu post favorito do terceiro ano?

2) Qual tema você gostaria de ver abordado mais no quarto ano?

E, pela audiência, e pela participação, agradecemos profundamente.

 

 

 


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Crescimento da Igreja Mórmon (2014)

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“Estamos reunidos juntos como uma grande família, mais de 15 milhões [de membros] fortes…”, disse Thomas Monson durante a abertura da última Conferência Geral neste fim de semana que passou. Com esta frase, o Presidente da Igreja SUD nos convida a revisitar uma análise estatística de como anda o crescimento da Igreja e ponderar justamente como enxergamos, compreendemos e utilizamos este conhecimento matemático.

Thomas Monson estabelece um número

Thomas Monson estabelece uma afirmação estatística (checável) em plena Conferência Geral

Tal entusiasmo estatístico não é incomum entre a liderança da Igreja. Na Conferência Geral de 2007 (Outubro), o Apóstolo Russell Ballard alardeou: “Como uma das fés Cristãs que cresce mais rápido no mundo, construímos uma capela nova todo dia de trabalho.”

E entre publicações recentes nos jornais oficiais da Igreja há muitos artigos que reforçam essa percepção, além do próprio escritório de relações públicas da Igreja. Lendo as publicações da Igreja e os discursos em Conferência Geral, tem-se a impressão de que a liderança está bastante otimista com o rápido crescimento da Igreja pelo mundo.

Não obstante tal otimismo, em Outubro de 2012 o mesmo Presidente Monson anunciou o rebaixamento da idade mínima para serviço missionário (de 19 para 18 anos para meninos, e de 21 para 19 anos para as meninas) em parte, de acordo com o Apóstolo Jeffrey Holland, para que “Deus … apress[e] Sua obra…”.

Em plena Conferência Geral, o atual Presidente da Igreja estabeleceu uma afirmação clara e inequívoca que pode ser testada, analisada e checada. No mesmo dia, a Igreja apresentou seus novos dados estatísticos para o ano de 2013. Com estes dados novos, além dos dados já oficialmente publicados pela Igreja nos anos anteriores, e comparados com dados populacionais de vários censos, pode-se checar e confirmar a afirmação do Profeta Mórmon e responder — e levantar — algumas perguntas.

A primeira, e mais importante, questão é: Como realmente anda o crescimento da Igreja?

Em Abril de 2012, eu tracei uma retrospectiva do crescimento da Igreja SUD entre 1981 e 2011, com base nos dados estatísticos publicados pela própria Igreja, e comparando-os com estatísticas populacionais mundiais. Os dados oficiais da Igreja para 2012 e 2013 apresentando-se dentro das mesmas tendências gerais, sem grandes mudanças.

Tabela de Estatísticas da Igreja SUD entre 1981 e 2013 (Clique na imagem para amplia-la).

Tabela de Estatísticas da Igreja SUD entre 1981 e 2013 (Clique na imagem para amplia-la).

Computados os dados oficiais da Igreja de total de membros por ano, podemos rastrear as taxas de crescimento anual da Igreja. Vemos então que, nos últimos 30 anos a taxa média de crescimento caiu de 5-6% ao ano nos anos 80, para 3-4% nos anos 90, 2-3% 14 anos, e entre 2-2,5% na última década.

Além de ser notável a redução progressiva na taxa de crescimento total, nós sabemos por estudos populacionais independentes que a taxa real de membros (em atividade ou por auto-identificação) é bem, bem menor que as taxas oficiais computadas pela Igreja — que costuma contar como membros todas pessoas batizadas ou abençoadas quando crianças, até 120 anos de idade ou falecimento confirmado. O que torna o número total de membros uma ferramenta para rastreamento de crescimento menos confiável.

Como anda o crescimento das unidades da Igreja?

Não obstante, podemos rastrear a taxa de crescimento de novas unidades (alas e ramos), pois em média estas necessitam de números de participantes ativos médios razoávelmente estáveis e comparáveis. Quanto usamos os dados oficiais para rastrear o crescimento da Igreja pela taxa de crescimento anual de unidades, vemos que a Igreja crescia entre 2,5% e 5% ao ano nos anos 80, entre 2,5% e 6% ao ano nos anos 90, e entre 0,5% e 1,6% ao ano nos últimos 15 anos.

Quando ploteamos esses dados num gráfico, uma tendência para redução de crescimento torna-se bastante aparente!

Crescimento da Igreja SUD, baseado em estatísticas oficiais de membros (taxa calculada anual de crescimento de número total de membros) AZUL, e de unidades (taxa calculada anual de crescimento de número total de alas e ramos) VERMELHO; comparação com taxa de crescimento populacional do mundo (Banco Mundial) VERDE.

Crescimento da Igreja SUD, baseado em estatísticas oficiais de membros (taxa calculada anual de crescimento de número total de membros) AZUL, e de unidades (taxa calculada anual de crescimento de número total de alas e ramos) VERMELHO; comparação com taxa de crescimento populacional do mundo (Banco Mundial) VERDE.

Se olharmos com um pouco mais de atenção para os últimos 15 anos, esta tendência torna-se ainda mais óbvia.

Crescimento da Igreja SUD, baseado em estatísticas oficiais de membros (taxa calculada anual de crescimento de número total de membros) AZUL, e de unidades (taxa calculada anual de crescimento de número total de alas e ramos) VERMELHO; comparação com taxa de crescimento populacional do mundo (Banco Mundial) VERDE.

Crescimento da Igreja SUD, baseado em estatísticas oficiais de membros (taxa calculada anual de crescimento de número total de membros) AZUL, e de unidades (taxa calculada anual de crescimento de número total de alas e ramos) VERMELHO; comparação com taxa de crescimento populacional do mundo (Banco Mundial) VERDE.

Vê-se, portanto, que a Igreja crescia bastante até 1998, com crescimento de membros bem acima do crescimento populacional global, mas que esse ritmo caiu bastante e progressivamente de 1999 para cá. Além disso, nota-se que o crescimento, como medido em unidades ou congregações, está abaixo do crescimento populacional de 1999 para cá, dando a entender que a Igreja cresce apenas em têrmos de taxas de reposição, ou até negativamente.

Que fique claro que os dados não dizem que a Igreja esta reduzindo de tamanho total! Há sem dúvidas mais Mórmons hoje que há 2 anos atrás, ou 5 anos ou 10, ou 20. Mas, os dados sugerem que a Igreja esta reduzindo de tamanho em proporção ao mundo ao seu redor.

Como cresce a Igreja em seu país natal dos Estados Unidos?

Os Estados Unidos vem mantendo uma taxa de crescimento populacional razoavelmente estável entre 0,85 e 0,95% ao ano.

A Igreja nos Estados Unidos crescia, em média, entre 1 e 4% ao ano nos anos 70, 1 e 4% ao ano nos anos 80 (com dois picos anômalos), 2 e 3% nos anos 90, e 2% na última década.

Então a Igreja cresce acima do crescimento populacional nos EUA?

Não exatamente. Estas taxas acima são dos números oficias de membros, que estudos independentes colocam entre 40 e 70% da real taxa demográfica de Mórmons. Por exemplo, o estudo independente ARIS demonstra que a população SUD nos Estados Unidos mantém-se estável (crescimento zero) em proporção à população Americana desde 1990 (1,4%).

Sendo assim, há dados que sugerem um crescimento pequeno, e há dados que sugerem um crescimento nulo nos últimos 20 anos nos EUA.

Como anda a obra missionária? Qual o impacto dela nisso tudo?

O gráfico é um pouco difícil de visualizar, mas mostra claramente que a taxa de conversos por missionários esta razoavelmente estável nos últimos 30 anos, entre 4 e 6 por ano por missionário. Quando se aumenta o número de missionários, aumenta-se o número de batismos proporcionalmente, e ambas taxas vem se mantido moderadamente estáveis, com a média anual de missionários na casa dos 50 000 e conversos na casa dos 280 000. Contudo, como discutido acima, há 18 meses a Igreja reduziu a idade mínima para serviço missionário, o que resultou num aumento súbito de missionários no camp0 de 58 990 no final de 2012 para 83 035 no final de 2013. Não obstante, a taxa de batismos de conversos manteve-se no mesmo nível que nos últimos 25 anos (sendo que a taxa de batismo por missionário caiu para um recorde histórico negativo).

Dez anos antes desta mudança, a Igreja havia anunciado uma política que reduziria o número de missionários no campo, por aumentar o grau de exigência para o serviço. Os resultados, como se pode ver, foram desastrosos e a Igreja vem lutando desde então para reverte-lo, culminando com esta mudança mais recente (10 anos após a outra). Entretanto, apesar do súbito crescimento de missionários totais no campo, ainda não houve comparável crescimento na taxa de conversos e batismos.

Considerando todos os dados estatísticos disponíveis, nota-se que a Igreja vem, há décadas, sofrendo de redução progressiva na taxa de crescimento. Sob alguns prismas, a Igreja tem crescimento nulo, apenas repondo suas perdas naturais (deserções e óbitos). Sob outros prismas, a Igreja cresce muito pouco acima do crescimento populacional natural, e sob outro (análise de crescimento de unidades) ela cresce abaixo do crescimento populacional (crescimento negativo). Sob nenhuma consideração pode-se dizer, baseando-se nos dados concretos, que a Igreja esteja crescendo bem.

E a questão dos “15 milhões [de membros] fortes…” de Thomas Monson?

Se considerarmos as estimativas conservadoras e otimistas de 1,4% da população americana (4 400 000), de 50% da população SUD fora dos EUA e de 25% de auto-identificação lá (2 000 000 — baseado em estudos brasileiros, chilenos, mexicanos, e filipenhos), deve haver uns 6,5 milhões de SUD nominais pelo mundo afora, ou pouco mais que 40% do que Monson alardeou neste fim de semana. Isto, considerando que estas estimativas são conservadoras e generosas, pois os números reais podem bem ser até menores — especialmente levando em consideração que destes ainda há muitos SUD que são inativos mais ainda se consideram Mórmons, e o fato de que em qualquer congregação SUD a porcentagem de membros dizimistas integrais e templários é usualmente pequeno comparado ao número de membros moderada ou intermitentemente ativos.

Conclusão

Tudo analisado, calculado e estimado, pode-se dizer que a declaração de Monson seja uma grosseira exageração, possivelmente para fins propagandistas ou de ânimos coletivos. Pode-se também dizer que o crescimento da Igreja é, de fato, um problema considerável, especialmente para um igreja que investe tanto em proselitismo. Tamanha preocupação explicaria as recentes mudanças experimentais com a força missionária e campanhas publicitárias multimilionárias.

Certamente a liderança máxima da Igreja têm acesso a dados estatísticos muito mais acurados e relevantes do que os que publicam e conseguem enxergar o problema com mais clareza. Entre os dados que seriam relevantes, eles sabem quantas pessoas frequentam as reuniões dominicais, quantas pessoas pagam seus dízimos mensalmente, quantas pessoas possuem uma recomendação ao templo, e quantos pedidos de resignações a Igreja recebe por ano. Independente da falta de transparência com o público, é certo que tenham tais dados e que não ignorem o tamanho ou a profundidade do problema. Resta, portanto, a dúvida de como aborda-lo da maneira mais eficaz e mais produtiva possível. Talvez investir em missionários de campo (i.e., vendedores de porta a porta) ou campanhas publicitárias não seja a melhor estratégia — ao menos não parece estar oferecendo bons retornos ao investimentos. Talvez investir em campanhas políticas preconceituosas e shoppings de luxo tampouco ajuda a projetar uma imagem pública com apelo religioso e espiritual.

Se você fosse o Presidente da Igreja, o que você faria para tentar reverter este quadro negativo e fomentar um crescimento mais robusto e duradouro? E, aproveitando, seria aberto e transparente com o problema de crescimento pífio ou tentaria esconde-lo ou mascara-lo com declarações bombásticas de números irreais?

 

 

 


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Utah vs. Gays Em Corte Federal

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Moudi Sbeity e Derek Kitchen, co-autores do processo contra Emenda Constitucional apoiada pela Igreja SUD, escrita por legisladores e eleitores Mórmons.

Moudi Sbeity e Derek Kitchen, 1 dos 3 casais co-autores do processo contra a Emenda Constitucional apoiada pela Igreja SUD, escrita por legisladores e confirmada por eleitores Mórmons.

A Corte Federal do Décimo Tribunal de Recursos iniciará procedimentos de argumentação nesta Quinta-feira no processo movido contra o Estado de Utah por discriminação contra homossexuais.

A Igreja SUD já sofreu um revéz em sua campanha legal contra famílias LGBT em junho do ano passado ao ter todos os seus esforços para proibir a legalização do casamento gay na Califórnia derrubados pela Suprema Corte. Agora o estado em questão é o próprio estado-sede da Igreja Mórmon. Entenda o caso atual.

Em 2004, os eleitores do Estado de Utah votaram, com o apoio público da Igreja SUD,  pela Emenda Constitucional [Estadual] #3 com 66% dos votos, que proibia reconhecimento legal de quaisquer casamentos ou uniões civis além da definida por lei como entre um homem e uma mulher.

Em Março de 2013, 3 casais homossexuais entraram com um processo em tribunal federal para obter julgamento de inconstitucionalidade desta emenda da constituição estadual. Em 20 de dezembro de 2013, o Juíz Federal Robert J. Shelby emitiu julgamento em favor das partes queixosas, argumentando que proibições de casamentos homossexuais são “irracionais” e que violam “direitos fundamentais” de homossexuais e, na prática, legalizando o casamento homossexual em Utah.

Enquanto a Igreja SUD imediatamente se pronunciava contra a decisão judicial, centenas de casais no estado entraram com a papelada e se casaram, até que a Suprema Corte Federal decretou, a pedido da promotoria pública do estado de Utah em 16 de janeiro de 2014 que a legalização de casamentos homossexuais deveria ser suspensa até que houvesse oportunidade para as partes acionadas (i.e., o Estado de Utah) tivessem a oportunidade de recurso legal. Até a suspenção entrar em efeito, mais de 1 000 casais homoafetivos já haviam contraído matrimônios legais e registrados em cartório, muitos mudando de sobrenomes, registrando-se para benefícios legais (como planos de saúde) e abrindo processos de adoções legais de crianças já informalmente adotadas.

@JSethAnderson escreve: Eu e meu novo marido. Meus bisavós Mórmons polígamos ficariam tão orgulhosos!

@JSethAnderson escreve de cartório em Salt Lake: Eu e meu novo marido. Meus bisavós Mórmons polígamos ficariam tão orgulhosos!

Começando hoje, o painel de juízes do Décimo Tribunal de Recursos ouvirá testemunhos e argumentos contra e a favor da proibição a casamentos homossexuais atualmente escrita na Constituição do Estado de Utah. O mais provável é que os argumentos apresentados sejam, em grosso modo, os mesmos que foram elaborados frente ao juíz federal de Utah no ano passado.

Os 3 casais de Utah argumentam que a proibição contra casamentos homossexuais de Utah fere seus direitos civis classificando-os como cidadãos de segunda categoria. Como argumentou um de seus advogados:

Ela lhes indica, assim como indica a todo mundo, que seus relacionamentos não são tão reais, valiosos, ou importantes como os de casais heterossexuais; que eles não são dignos de reconhecimento; e que eles não são, e nem podem ser, famílias de verdade.

Além disso, seus advogados argumentaram que tais restrições ou proibições eram tão imorais e inconstitucionais como as proibições contra casamentos interraciais (que a Igreja SUD também apoiou em meados do século XX), e que proibir casamentos homossexuais em nada altera ou protege os casamentos heterossexuais, servindo apenas para “estigmatizar e ferir casais homossexuais e seus filhos”.

A promotoria pública de Utah já se pronunciou prometendo levar o caso até a Suprema Corte Federal caso percam novamente nesta instância. Ela argumenta que o Estado mantêm interesse em defender esta lei homofóbica pelo medo público de que casamentos homossexuais, se legalizados, reduziriam taxas de natalidade, encorajariam decisões “egoístas” entre casais e exporiam mais crianças a crescerem “sem pais ou sem mães”.

Pais e mães são diferentes, não intercambiáveis, e a diversidade de ter tanto uma mãe como um pai é o ambiente ideal para educação de crianças.

Ironicamente, em nenhum momento se discutiu se o ideal não seria um pai e muitas mães.

Numa manobra surpreendente e de última hora, a promotoria de Utah enviou uma nota ao Tribunal de Recursos abandonando o uso de um suposto “estudo científico” do sociologista Mark Regnerus que fora amplamente citado por sua argumentação diante do juíz federal no ano passado. O “estudo”, usado e citado pela Igreja e suas autoridades gerais,  já foi descreditado e denunciado por toda comunidade acadêmica por seu uso amplamente desonesto dos dados para forçar a conclusão de que filhos criados por pais homossexuais apresentam deficiências psico-emocionais quando comparados com pais heterossexuais. O periódico onde o estudo fora publicado encomendou uma auditoria independente, que concluiu que os dados do estudo não sustentam sua conclusão e que o autor mentiu liberal e deliberadamente em seu relatório! O “estudo”, e o próprio Regnerus em si, foram estrelas durante este processo no ano passado (e outros similares) e estavam incluídos nos autos para o presente processo, mas com a crescente conscientização pública de sua falta de integridade e relevância, a promotoria de Utah optou por argumentar diante dos juízes sem o que muitos percebiam (inclusive a liderança SUD) como seu melhor argumento.

Como responderá o Tribunal de Recursos é, neste momento, uma incógnita. Relatos preliminares sugerem que os juízes foram firmes e inquisitivos durante os argumentos orais de hoje, mas nada disso se pode traduzir em previsão informada. Não obstante, em sua opinião judicial e decisão de dezembro de 2013, o juíz de Utah delineou de maneira clara e lógico o que provavelmente norteará as decisões do Tribunal de Recursos:

O suposto direito para casamento homossexual que o Estado afirma que os queixosos estão buscando é simplesmente o mesmo direito do qual gozam indivíduos heterossexuais: o direito de firmar compromisso público para formar um relacionamento exclusive e criar uma família com um parceiro com quem a pessoa compartilha elo emocional íntimo e sustentador… Tanto os casamentos heterossexual como o homossexual são, portanto, apenas manifestações de um mesmo direito — o direito de casar-se — aplicados a pessoas de diferentes identidades sexuais… Enquanto se presumia que uma pessoa só poderia compartilhar de um elo emocional íntimo e construir família com pessoa do sexo oposto, a realização que esta presunção é falsa não altera o direito propriamente dito. Muda, apenas, o resultado com o qual esta corte aplica os fatos diante de si a este direito básico. Aplicando-o à parte queixante, esta corte julga que a Constituição [Federal] protege seus direitos a casamento com pessoas do mesmo sexo, da mesma maneira que ela protege  indivíduos heterossexuais de casamento com pessoas do sexo oposto… O Estado não apresentou nenhuma evidência que o número de casais de sexo oposto que escolhem casar-se entre si será de qualquer maneira afetado pela habilidade de casais do mesmo sexo de se casarem. Na verdade, desafia à razão concluir que permitir casais homossexuais de se casarem reduzirá o exemplo que casais heterossexuais dão para os seus ainda solteiros.

A Igreja SUD não arrefeceu em sua oposição política aos direitos civis plenos de homossexuais, a julgar pelos comentários na Conferência Geral deste fim de semana. Após o desastre de relações públicas que foi sua vitória em 2008 a levou a tentar suavizar sua postura com a comunidade LGTB, seus líderes indicaram indiretamente que esta cruzada ainda não havia terminado para ela após a derrota judicial de 2013. Como reagirá a Igreja caso seja forçada a confrontar uma derrota ainda maior em seu próprio quintal?


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Por Que As Mulheres Não Foram Incluídas?

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Texto por Lori Burkman

Chieko Okazaki, Primeira Conselheira na Presidência Geral da Sociedade de Socorro (1990-1997)

Chieko Okazaki, Primeira Conselheira na Presidência Geral da Sociedade de Socorro (1990-1997)

Em 2005, a outrora Primeira Conselheira da Presidência Geral da Sociedade de Socorro Chieko N. Okazaki deu uma incrível entrevista a Gregory Prince para a revista Dialogue: a Journal of Mormon Thought.1  De todas as vezes em que ouvi uma mulher representante da Igreja falar em público, eu jamais me havia impressionado tão profundamente ou aprendido tanto como com este entrevista. A irmã Okazaki falava de maneira surpreendetemente aberta e franca sobre como mulheres são ignoradas na Igreja, não consultadas sobre assuntos importantes, ou carecem de um sentimento geral de auto-importância.

A entrevista começa da seguinte maneira:

Em todas as minhas reuniões com as jovens mulheres ou com as mulheres da Sociedade de Socorro, eu costumeiramente me surpreendo com a percepção de que elas não sentem que possam funcionar como mulheres na Igreja — não todas, é claro, mas muitas delas que vieram a mim e conversaram comigo. Eu fico me perguntado: “Como chegaram elas a este ponto de se sentir de que não valem muita coisa na Igreja?

Será que sou apenas eu, mas não é uma observação chocante para uma mulher que serviu em tantas posições de liderança geral dizer assim, tão abertamente? Na minha experiência, o status quo para líderes é falar do quão maravilhoso é a capacidade da Igreja de fazer as mulheres se sentirem valorizadas. Se muito, dirão que a Igreja é a organização número 1 no mundo em fazer mulheres se sentirem valorizadas. A franqueza e a honestidade da irmã Okazaki é uma fonte de conhecimento e percepção dos desafios encarados por mulheres Santos dos Últimos Dias.

Quanto mais eu aprendo sobre a irmã Okazaki, mais me impressiono com ela. Em 1962, ela foi a primeira mulher não-Branca a servir em qualquer posição de uma auxiliar geral da Igreja SUD e foi a primeira mulher a servir todas as três organizações SUD para mulheres em âmbito geral, sendo seu maior chamado o de Primeira Conselheira da Presidência Geral da Sociedade de Socorro entre 1990 e 1997. Estarei citando sua entrevista de 2005 para a revista Dialogue frequentemente porque eu acho muito importante para que todas possam ouvir o registro cândido e emocionante da estória desta mulher.

Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Harold B. Lee

Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Harold B. Lee

Ela era muito dedicada no serviço das mulheres da Igreja através de seus chamados, mas frequentemente sem saber como faze-lo porque mulheres simplesmente não eram convidadas a participar das reuniões onde as grandes decisões eram tomadas, mesmo sendo membro da Presidência Geral da Sociedade de Socorro. Visto que sua função como Primeira Conselheira na Presidência Geral da Soc-Soc incluia supervisionar a estrutura educacional para as irmãs da Igreja, a irmã Okazaki procurava meios pelos quais as lições dominicais poderiam suprir as necessidades atuais das mulheres na Igreja. Ela percebeu que o manual de lições estaria sendo atualizado em breve, então em espírito de oração redigiu guias gerais importantes para inclusão no processo em andamento. Após suas guias gerais serem aprovadas pela Presidência Geral da Soc-Soc, ela os levou ao Comitê de Currículos. Imediatamente lhe avisaram que seus guias gerais para o manual de lições e suas sugestões não seriam necessários porque um novo manual já havia sido escrito para elas e já estava quase completo.

Eu perguntei sobre o que [seria o novo manual", e ele me respondeu dizendo: "Bom, é o manual de Harold B. Lee". Seria o primeiro na série de Ensinamentos dos Presidentes da Igreja. Eu perguntei, então: "Por que estão escrevendo para nós mulheres um manual sobre Harold B. Lee?" Ele não sabia. Eu relatei a conversa à presidência [da Soc-Soc], e então fomos todas ao Comitê de Currículos perguntar: “Do que se trata isso?” Eles responderam: “Bom, nós já estamos quase terminando o primeiro livro.” Ao que respondemos: “Vocês já estão quase terminando o primeiro livro e nunca lhes ocorreu de nos contar isso? Por que estamos ouvindo disso pela primeira vez só agora?” E eu perguntei: “Quem escreveu este manual?” Resulta que foram cinco homens, e que os manuais para o Sacerdócio de Melquisedeque e para a Sociedade de Socorro teriam as mesmas lições. E eu perguntei: “Por que as mulheres não foram incluídas nisto?

Meninas Não Permitidas

Meninas Não Permitidas

Como no caso com os manuais novos, o maior obstáculo para conseguir-se que as necessidades das mulheres fossem levadas em consideração fora o fato delas simplesmente não serem incluídas onde as conversas e discussões mais importantes ocorriam. Em âmbito local, a irmã Okazaki sugeriu na entrevista que a Igreja se beneficiaria enormemente se a Presidente da Soc-Soc fora incluída em todas as reuniões de Bispado. O modelo atual de apenas trabalhar com o Bispo durante o Conselho de Ala (um grupo maior onde todas as auxiliares estão representadas) não é o suficiente. Em âmbito geral, ela achou que as mulheres eram excluídas de uma maioria esmagadora dos comitês e reuniões importantes e que assim não serviam as necessidades das irmãs em pé de igualdade com as dos homens.

Perguntamos, certa vez, se poderíamos participar do comitê de construção e do comitê de templos, porque às vezes pensamos “por que construíram desta maneira? Isto simplesmente não funciona bem para as necessidades das mulheres.” E queríamos estar no comitê de templos porque há muitas coisas que afetam as experiências de mulheres nos templos. Mas nós nunca fomos autorizadas a participar destes comitês.

A parte da entrevista que mais me surpreendeu foi descobrir que a Presidência Geral da Sociedade de Socorro sequer havia sido notificada que trabalhava-se no texto da ‘A Família: Uma Proclamação Ao Mundo’. Elas não foram informadas dele, elas não foram consultadas de qualquer maneira sobre o rascunho do texto, e elas não foram perguntadas sobre preocupações específicas de mulheres que poderiam ser incluídas. Quando ela foi apresentada ao texto final, sua reação foi esta:

“Como é possível que não fomos consultadas?”

Greg Prince seguiu com outra pergunta: “Vocês nem sabiam que se estava trabalhando nisso?”

Não. Eles apenas nos perguntaram em qual reunião anuncia-lo, e nós respondemos: “O que quer que o Presidente Hinckley decidir estará bem conosco”. Ele decidiu faze-lo na reunião da Sociedade de Socorro. O Apóstolo que era nosso contato disse: “Não é maravilhoso que ele decidiu  anuncia-lo na reunião da Sociedade de Socorro”? Bom, isso estava bem, mas enquanto eu lia, eu pensava como poderíamos ter feito algumas mudanças nele. Às vezes eu penso que eles estão tão ocupados que eles esquecem que nós estamos ali.

‘A Família: Uma Proclamação Ao Mundo’ é um documento que nos guia em nossa compreensão dos papéis de mulheres, homens, e da unidade familiar no plano de Deus. A proclamação delineia uma ideologia para a família e tem sido o padrão pelo o qual todos os membros da Igreja são encorajados a se espelhar.

'A Família: Uma Proclamação Ao Mundo' da Primeira Presidência e do Conselho dos Doze Apóstolos (1995)

‘A Família: Uma Proclamação Ao Mundo’ da Primeira Presidência e do Conselho dos Doze Apóstolos (1995)

Então, se ‘A Família: Uma Proclamação Ao Mundo’ é uma declaração pública feita pela liderança da Igreja com a intenção de ajudar os Santos enquanto enfrentam desafios atuais, por que a Presidência Geral da Sociedade de Socorro não foi consultada ou mesmo notificada de seu projeto? Quando nos dizem vez após vez que a forma mais elevada de dignidade da mulher é sua capacidade de nutrir e fortalecer a família, por que então não seriam elas consultadas no projeto de um documento proclamando e delineando a posição da Igreja sobre a família? Certamente, a proclamação teria se beneficiado das percepções da Presidência Geral da Sociedade de Socorro. Do que eu  tenho lido sobre as experiências de vida da irmã Okazaki como uma minoria e uma exceção na Igreja, eu creio que ela teria insistido na inclusão de uma seção dedicada àquelas pessoas cujas famílias ou potenciais familiares não se enquadram no modelo “perfeito” por nenhuma culpa delas. Eu realmente não posso acreditar que este documento esteja completo sem incluir conselho para aqueles que jamais terão um formula familiar de dois-pais + crianças neste vida, e assegurar que eles também podem cumprir seus propósitos divinos.Muitos membros equivocadamente afirmam que ‘A Família: Uma Proclamação Ao Mundo’ é uma revelação canônica diretamente de Deus. Se fosse o caso, então faria sentido que mulheres não fossem incluídas como consultoras, uma vez que revelações não são produtos de esforço de grupo. Mas proclamações não são para introduzir novas doutrinas, pois este não é seu papel. Se fosse, a aceitação da proclamação ao cânone teria sido votada em Conferência Geral e, por consentimento comum, sua inclusão na próxima edição do nosso cânone impresso planejada (que foi atualizado em 2013, em sua primeira atualização desde 1980). O propósito de proclamações oficiais da Igreja (há cinco tais proclamações oficiais, a mais recente das quais havia sido no sesquicentenário em 1990) não é ser interpretada ou tratada como novas revelações, mas para clarificar a posição da Igreja em assuntos que são significativos para o mundo no momento presente, com a esperança de encorajar a resolução dos Santos e aumentar sua compreensão dos assuntos do dia.2 Quando Boyd K. Packer erroneamente disse que ‘A Família: Uma Proclamação Ao Mundo’ “qualificava dentro da definição de revelação” [vídeo] enquanto dava seu discurso da Conferência Geral de 2010 ‘Limpando Seu Vaso Interior’, este erro foi oficialmente apagado quando o discurso foi publicado, e a proclamação foi corretamente descrita como “um guia que membros da Igreja deveriam ler e seguir” [correção impressa].

Eu acho que esta entrevista com a irmã Okazaki é o perfeito exemplo dos desafios que muitas mulheres encontram na Igreja de hoje. Não é que a Igreja não ame ou não valorize suas mulheres, ela certamente o faz. Mas a infra-estrutura da Igreja não permite que mulheres sejam igualmente representadas; nossas vozes não são, simplesmente, parte integral da narrativa. Visto que mulheres são rotineiramente excluídas de reuniões e comitês onde a maioria das políticas e as práticas da Igreja são estabelecidas, um vão sempre existirá para muitas mulheres entre suas necessidades e o que lhes é ofertado pela Igreja. Quando a irmã Okazaki foi questionada se as mulheres de gerações mais jovens tem uma chance de corrigir esta dicotomia, ela respondeu:

Eu preciso dizer que, nos meus 64 anos de Igreja, eu às vezes um pouco da mudança que muitas mulheres impulsionam elas mesmas, mas na maioria das vezes, eu não tenho visto mulheres dispostas a fazer tais mudanças possíveis. Por onde quer que eu vá, eu creio que elas já sabem qual é o seu lugar… Quando mulheres percebem o recado que seu papel é apenas servir de apoio e apenas concordar com as decisões do Bispo, elas se transformam em ostras.

Eu penso que a impressão que a  irmã Okazaki tem de mulheres Mórmons como sendo apenas raramente as instigadoras ou as engenheiras por mudanças relevantes dentro da Igreja é precisa; elas simplesmente não são ensinadas que este é o seu propósito, então isto raramente ocorre. Desde esta entrevista até hoje, a Internet se tornou uma estação central onde mulheres de pensamento similares podem se encontrar e começar a se organizar para melhor abordar as necessidades das mulheres.

'Nós Conseguimos', poster de propaganda de guerra (1943) por J. Howard Miller para incentivar a força de trabalho feminina da Cia. Elétrica Westinghouse.

‘Nós Conseguimos’, poster de propaganda de guerra (1943) por J. Howard Miller para incentivar a força de trabalho feminina da Cia. Elétrica Westinghouse.

Grupos como as Donas de Casa Mórmons FeministasOrdene as Mulheres, e as Jovens Mórmons Feministas se formaram para providenciar espaços produtivos e únicos para o crescente número de mulheres que se encontram necessitando de um apoio extra.

A corrente principal da Igreja descreve Feministas Mórmons como pessoas que não valorizam as mulheres e sua feminidade, e não compreendem o sagrado papel de mães e nutridoras. Assim como a irmã Okazaki, isto não poderia estar mais longe da verdade. Elas valorizam seu papel divino imensamente, mas elas apenas querem poder fazer mais para o Reino de Deus na Terra. As ações do movimento Ordene as Mulheres ao esperar na fila para pedir permissão para entrar na Sessão do Sacerdócio vem sido taxada pela Igreja como um protesto.3 Mas, novamente, isto é completamente falso. Não tem nada a ver com protesto. Ela são simplesmente mulheres SUD fiéis que desejam estar na sala para ouvir o Profeta e nossos líderes falando sobre o Sacerdócio, algo que nos asseguraram ao qual temos acesso igual, embora não o portemos nós mesmas. A Igreja também diz que as Feministas Mórmons estão propositadamente tentando ser divisivas e causar discórdia, mas novamente esta caracterização está incorreta. Estas não são mulheres sem conhecimento da doutrina e apáticas às metas e propósitos da Igreja. Elas são mulheres comprometidas com o Evangelho que elas tanto querem ver prosperar, e o único caminho através do qual podem enxergar isso acontecendo é tomando um papel mais ativo e participativo e recebendo uma estrutura paralela para crescimento e liderança. Elas podem ver que muito das políticas, mentalidades, e procedimentos atuais da Igreja atrapalham o crescimento global da Igreja, causando um (especialmente entre os jovens) a se tornarem desafetos. Elas querem fazer parte de um movimento de mudança para melhor na Igreja, de maneiras que não lhe são disponíveis ou permitidas hoje.

As Feministas Mórmons sabem que nos primórdios da Igreja, as auxiliares de mulheres tinham muito mais autonomia e  escopo que tem hoje. Joseph Smith se referiu à Sociedade de Socorro como um “reino de sacerdotisas”4 quando ele a incorporou oficialmente dentro da Igreja, e as Feministas Mórmons querem saber o quanto ele quis dizer com isto. Elas buscam a restauração das responsabilidades (como supervisionar finanças, coletar dízimos, lavar e ungir com óleo, e impor as mãos nos doentes)5 que foram originalmente ofertadas às mulheres quando a Igreja ainda era jovem.

Fazendo as Perguntas Difíceis

Fazendo as Perguntas Difíceis

As Feministas Mórmons sabem que tais solicitações soam estranhas agora, visto que poucos membros sequer sabem que mulheres já cumpriram tais funções na Igreja, mas elas esperam que, ao trazer à luz este conhecimento lhes ajudará a restaurarem-se estas responsabilidades. Elas não tem medo de fazer as perguntas difíceis sobre o porquê que suas influências e participações na Igreja vem sido reduzidas ao invés de expandidas com o tempo.

Da mesma maneira que a irmã Okazaki, muitas mulheres na Igreja de hoje sabe que é possível ter um verdadeiro conhecimento e testemunho da pura doutrina e do Evangelho de Cristo e ainda assim discordar das políticas e procedimentos da instituição terrena que leva Seu nome. Elas também sabem que ninguém jamais deveria perguntar “por que as mulheres não foram incluídas nisto?”

 

Chieko 7

1) ‘Entrevistas e Conversações. Há Sempre Um Desafio; E Entrevista Com Chieko Okazaki’, Gregory Prince, Dialogue: a Journal of Mormon Thought.

2) ‘Proclamações, Declarações Clarificam, Reafirmam Doutrina SUD’, Chuch News.

3) ‘Igreja Solicita Grupo Ativista Reconsiderar Planos de Protesto na Conferência Geral’, Site Relações Públicas da Igreja.

4) ‘Mulher e Autoridade’, Maxine Hanks (ed.), Signature Books & ‘Mulheres Mórmons Tem Sacerdócio Desde 1843′, Michael Quinn.

5) ‘Um Dom Dado, Um Dom Tirado’, Sunstone Magazine.

 

Lori Burkman

Lori Burkman

Texto Original por Lori Burkman. Reproduzido com permissão.

Lori cresceu no Noroeste Americana, tem um diploma de Letras pela BrighamYoungUniversity e serviu uma missão de tempo integral para a Igreja SUD. Casou-se no Templo de Portland em 2005 e têm três filhos pequenos. Trabalhou como webdesigner durante a faculdade, migrou para escritora técnica e editora por 3 anos, até tornar-se mãe de tempo integral. Ela adora fotografia, música, esportes recreativos, leitura, e estudos. É incrivelmente apaixonada por Mormonismo e está sempre animada para compartilhar sua estória com outros.

 

 

 


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Pessach — A Páscoa Judaica

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Hoje comemora-se o Pessach ou, como é popularmente conhecido, a Páscoa Judaica.

Tocando um shofar, feito de chifre de carneiro, anuncia-se o sacrifício de pessach

Tocando um shofar, feito de chifre de carneiro, anuncia-se o sacrifício de Pessach

O Pessach (do hebraico פֶּסַח significando “passagem”; das raízes de passar através ou passar por sobre”) é um feriado religioso judaico que comemora o conto do Exodo Israelita presentemente narrado na Bíblia Hebraica (ou, como é conhecido entre Cristãos, o Velho Testamento), especialmente no Livro de Exodo. Comemorado no décimo-quinto dia do mês de Nisan (que neste ano de 2014 é hoje), este festival milenar celebra a estória do profeta Moisés libertando o povo Hebreu de sua escravidão no Egito e une milhares de judeus religiosa e culturalmente até hoje. Ademais, o impacto religioso e cultural desta festa pode ser sentido, profundamente, tanto no Cristianismo como no Mormonismo moderno.

Portanto, mesmo que não celebremos hoje o Pessach com uma ceia especial (chamada de Seder) ou os 7 dias de festividades (conhecidos como as festas de pães ázimos ou Chag Matzot), devemos revisitar suas origens, seus significados, e celebrar seus impactos residuais em nossas próprias religiões e culturas.

ORIGENS HISTÓRICAS

O feriado de Pessach teve seu início em festivais de fertilidade agrícola. Tipicamente, tratava-se de uma celebração dos inícios das colheitas agrícolas similar a outras sociedades agricultoras. Porque o calendário Hebreu era lunar (ao invés do calendário solar que hoje utilizamos), o feriado era especificamente calculado para cair na primeira noite de Lua Cheia após o equinócio primaveril. Para evitar que caísse antes da Primavera, por causa das flutuações anuais típicas de calendários lunares, determinava-se que ele deveria ocorrer apenas após as cevadas estivessem prontas para colheita — e um mês extra era adicionado ad hoc antes do Nisan para tais correções eventuais.

O mais antigo relato da comemoração do Pessach em seu formato religioso vem dos papíros Elefantinos (uma comunidade no Egito) datado de 419 AEC, com menção à ceia de passagem e os subsequentes 7 dias de festivais de pães ázimos (ou matzá, sem fermento). Não obstante, sabe-se que durante as reformas religiosas do reinado de Josias (641-609 AEC), o povo Hebreu passou por um processo de centralização dos cultos religiosos sob o controle do Rei. Este processo acelerou a migração de uma grande diversidade de deuses e cultos na Palestina para uma religião estatal centralizada, fortalecendo o Estado Israelita e moldando uma coesão religioso-cultural para uma identidade nacional. Entre os muitos artefatos desta consolidação ideológica, encontramos as novas encarnações dos textos sagrados (que encontramos hoje na Bíblia Hebraica) e da celebração do Pessach.

A editorialização consolidada dos textos sagrados e das muitas tradições orais existentes evoluiu numa narrativa que enfatizava perfeitamente o novo sentido de nacionalismo hebraico em contraposição à descentralizada e diversificada coalizão de múltiplas tribos palestinas. Além das mitologias fundacionais (ou mitos fundadores) construídas literariamente para redefinir esta nova nacionalidade e suas origens (em contraposição a tribos e reinos vizinhos), estas re-imaginadas narrativas legaram todo um paradigma metafísico e religioso. Diferentemente da evolução natural histórica de tribos indígenas coalescendo com o passar do tempo e de seus sucessos sócio-econômicos, descobriu-se que um herói fundador libertou um povo já coeso e nacionalmente identificado do Mal incorporado num dos impérios mais tradicionais e mais poderosos da região. Diferentemente da multiplicidade de deuses e divindades, de cultos e incantações mágicas, descobriu-se a existência de um único Deus com poderes mais vastos do que quaisquer outras possíveis magias locais, e coincidentemente representado e centralizado na figura máxima desta identidade nacional.

Encantação ritualística através de sacrifício animal para proteção contra o extermínio de crianças, comum em várias culturas Mediterrâneas

Encantação ritualística através de sacrifício animal para proteção contra o extermínio de crianças, comum em várias culturas Mediterrâneas, incorporada na narrativa de Moisés

Os rituais agrícolas ganharam novas dimensões, e a celebração da primavera e da colheita de cevada e trigo foi incorporada na comemoração da libertação do povo-nação Israelita pelas mãos de Moisés. Com novas re-interpretações de rituais antigos (e.g., pães sem levedura não indicando mais o início da colheita, mas da mitológica fuga súbita do Egito; sacrifícios animais não cultivando mais os favores dos deuses, mas relembrando o cruel assassinato em massa de crianças egípcias como favor do Deus máximo; etc.), e com a importância da unidade e conformidade religiosa para o projeto expansionista de Josias, o Pessach passou a ganhar relevância universal entre os hebraicos e sua prática re-estilizada fortemente incentivada.

Ironicamente, Josias foi derrotado por forças egípcias nas planícies de Megido e morto em batalha, enquanto estes se uniam a forças Assírias para se opor à expansão Babilônica.  Imposto um rei vassalo egípcio sobre Israel, o status quo religioso retornou lentamente às expressões mais livres, menos centralizadas, e mais diversificadas (e mais politeístas). Quando os Assírios foram eventualmente derrotados pelos Babilonios, os reinos egípcios e israelenses foram saqueados em 597 AEC, e uma subsequente revoltada Hebraica trouxe nova e maior retaliação militar e política em 587 AEC contra as classes dominantes israelenses, deportando e expatriando até 25% do povo hebraico.

Com a eventual conquista Persa da Babilonia, e seguindo os preceitos Zoroastrianos de tolerância cultural e religiosa, a elite deportada foi permitida a não só retornar para a Palestina, como a reconstruir suas estruturas imperiais, incluindo sua religião centralizada e o templo dedicado ao culto exclusivista a Yahweh. Encorajados pelo monoteísmo (e apocalipticismo) da atual religião dominante (i.e., Zoroastrianismo), a retornada elite Israelense retomou o projeto de centralização do culto hebraico, assimilando novos contos e novas redações dos textos sagrados para formar um novo sincretismo religioso. Neste novo paradigma, os cultos templários voltariam a figurar como de importância máxima, e o festival de Pessach, com seu foco nacionalista, sua mensagem anti-imperialista e xenofóbica, sua valorização do culto templário (incluindo o ritualístico sacrifício animal), e com maiores tons apocalípticos (de libertação milagrosa e divina — com retribuição e vingança) cresceu para assumir o posto maior de todos os festivais religiosos e nacionais.

Réplica do Segundo Templo, ou Templo de Herodes

Réplica do Segundo Templo, ou Templo de Herodes

Uma vez consolidado o Estado-Nação judeu, sendo estabilizado pela conquista Romana em 64 AEC e pela Pax Romana de César Augusto e centralizado pelo vassalo Romano Herodes I (ou Herodes o Grande, 74-4 AEC), o templo de Jerusalém ganhou importância e centralidade cultural sem precedentes na história hebraica. Pela primeira vez, toda a identidade israelense, seja cultura, seja política, seja religiosa convergia a este edifício, e nos rituais ali executados. Uma nova classe de elite intelectual (os Saduceus) cresce ao redor de sua influência cultural referente a seu acesso ao templo, incentivando o povo hebreu a enxerga-lo como o próprio intermediário entre o divino e o terreno, removendo a prática cultica-religiosa do lar e depositando-o nas mãos desta elite. Com toda essa nova importância, o festival religioso mais relevante para o templo evolui no ritual religioso para toda a cultura e para toda a nação. Muito além de uma celebração familiar, o Pessach passa a ser uma celebração nacional, e a peregrinação templária encorajada pela estrutura de poder constituida ganha proporções populacionais quando hordas de judeus passam a peregrinar à Jerusalém para comemorar o Pessach como uma Nação.

Após a desastrosa revolta da Primeira Guerra Judaica (66-70 EC), quando uma rebelião anti-Romana iniciada na Galiléia se alastrou por toda Palestina e resultou na completa destruição de Jerusalém e do Templo de Herodes, tanto a elite religiosa como o povo comum foram forçados a reavaliar e repensar todos os seus costumes ritualisticos que, neste momento, girava em torno do templo. Desprovidos das ferramentas de status cultural e religioso (i.e., o templo), os Saduceus se viram lentamente substituídos como elite intelectual pelos Fariseus, que progressivamente se fundiram e amalgamaram em escolas de rabinato e fundaram o Judaísmo Rabínico — que persiste até hoje. Eventos aceleraram rapidamente com a mais desastrosa segunda revolta anti-Romana liderada por Simão Bar Kochba (132-135 CE) e financiada pelos Saduceus, que resultou em nova destruição de Jerusalém, na expulsão de Judeus da Palestina e na dissolução do Estado Israelita. Espalhados pelo mundo na Diáspora Judaica, judeus e rabinos lutaram bravamente para manter um sentimento de nação dispersa através das intensas re-interpretações dos rituais para contextualiza-los para uma realidade onde não mais havia um estado-nação, não mais havia um templo, ou sequer uma terra hebraica. O Pessach evoluiu para uma festa religioso familiar, reduzindo o escopo da dimensão relacional entre Deus e Seu povo para uma entre Deus e Seus filhos.

 

INFLUÊNCIA NO JUDAISMO

O Pessach hoje em dia é uma festa religiosa centrada na família.

Inicia-se no 15o dia do mês de Nissan, ou melhor ao por-do-sol do dia anterior, posto que os dias do calendário hebraico se iniciam no por-do-sol da véspera até o por-do-sol no dia seguinte (e.g., do 15 de Nissan de 2014 caiu no 15 de Abril, porém ao invés do dia começar à meia-noite, ou com o alvorecer, ele iniciou no por-do-sol do dia 14 de Abril).

O feriado constitui em duas ceias familiares, no dia 15 e no dia 16, quando as famílias se reúnem para ler juntos sobre o conto de Moisés e a fuga milagrosa dos judeus do cativeiro egípcio. Nenhum alimento fermentado pode ser consumido, e muitos religiosos vendem todos os utensílios de cozinha que já prepararam alimentos fermentados (para re-compra-los novamente após o Pessach), e segue-se um ritual que serve tanto para comemorar os contos religiosos como para re-criar uma sensação comunitária maior de nação em diáspora.

1) Kaddesh (Santificação): Abençoa-se o vinho em honra do feriado e bebe-se de uma taça.

2) Urechatz (Lavagem): Lava-se as mãos.

3) Karpas (Vegetais): Molha-se um vegetal (e.g., salsa) em água salgada e come-se, um simbolizando as origens simples do povo e o outro as lágrimas derramadas na escravidão.

4) Yachatz (Partilha): Partilha-se uma das matzas (pão sem levedura).

5) Maggid (Estória): Conta-se, ou canta-se, um relato da estória do Exodo, após o que toma-se mais uma taça do vinho.

6) Rachtzah (Lavagem): Lava-se novamente as mãos, seguido de uma benção.

7) Motzi (Benção): Recita-se uma benção sobre os alimentos.

8) Matzah (Benção): Recita-se uma benção específica sobre os alimentos não fermentados.

9) Maror (Ervas Amargas): Recita-se uma benção sobre ervas amargas (e.g. rábano silvestre ou alface) e come-se, representando a amargura da escravidão.

10) Korekh (Sanduíche): Tradição teria o animal sacrificado comido como um sanduíche com matzah e maror, mas como não há mais sacrifícios animais, come-se maror com matzah em lembrança da época templária.

11) Shulcan Orekh (Ceia): Come-se, então, uma ceia festiva. Comidas variam de países e culturas, sem prescrição específica, ilustrando bem as consequências da diáspora.

12) Tzafun: Sobremesa, usualmente com matzah.

13) Barekh (Agradecimento): Um prece de graças é oferecida. A terceira taça de vinho é bebida, e uma quarta é posta sobre a mesa para o Profeta Elias, que supostamente virá num Pessach para anunciar a vinda do Messias. Uma porta é, então, aberta para a entrada de Elias. Esta tradição iniciou-se, primordialmente, para refutar as acusações de Cristãos de que Judeus bebiam sangue de crianças ao invés de vinho — ironicamente, uma acusação que Cristãos, antes de assumir o poder político da Europa no século IV, precisavam refutar de críticos Pagãos.

14) Hallel (Graças): Salmos são recitados e a última taça de vinho da noite é bebida.

15) Nirtzah (Encerramento): Uma curta prece de encerramento para concluir o Seder e expressar o desejo de celebrar o próximo Pessach em Jerusalém sob a liderança do Messias, seguido de hinos e estórias.

 

Têrmo Significado Hebraico
Pessach Passagem Pesach (in Hebrew)
Matzo Pão Sem Levedura ou Fermento Matzah (in Hebrew)
Chametz Comidas Fermentadas Chametz (in Hebrew)
Seder Ritual familiar constituindo em ceias nas primeiras duas noites do Pessach Seder (in Hebrew)
Haggadah Livro lido em família durante o Seder Haggadah (in Hebrew)

 

INFLUÊNCIA NO CRISTIANISMO

Inicialmente, Cristãos celebravam o Pessach junto com os judeus. Em três dos quatro relatos da vida de Jesus estabelecidos pelos Evangelhos, a última ceia de Jesus foi claramente um Seder de Pessach. Com o passar do tempo, a evangelização de não-Judeus para o Cristianismo, e os crescentes atritos entre as facções sectárias judaicas (Cristãos contra Fariseus, mais especificamente, resultando na expulsão de ambos grupos de Roma na década de 50 CE), os Cristãos passaram lentamente a se distanciar do Judaísmo e se desvincular de suas raízes judaicas. Entre as mudanças, como o dia de adoração (de Sábado para Domingo ou Quinta-feira, dependendo), houve a transição do festival primaveril do Pessach para o distintamente Cristão festival da Páscoa.

O têrmo Cristão Páscoa vem da tradução grega de Pessach. Πάσχα (pásrra) ou Πάσκα (pásca) também significa passagem e era o têrmo utilizado por Judeus na diáspora Romana. A terminologia grega fora utilizada por causa da ainda universalidade de grego koiné como lingua franca do Império Romana e do mundo Mediterrâneo — o motivo principal porque os textos que viriam compor o Novo Testamento foram originalmente escritos em grego koiné.

Não obstante a manutenção da mesma terminologia e significados, além da contextualização agrícola sazonal, os Cristãos mobilizaram-se para distinguir teologicamente a sua Páscoa do Pessach judeu. O primeiro a estabelecer por escrito um relato sobre Jesus, o autor do Evangelho de Marcos construiu toda sua narrativa literária ao redor do tema do último Pessach na vida de Jesus. O autor situa Jesus como um judeu que cuidadosamente observa os rituais judaicos até o dia de sua execução e morte e celebra o que viria a se tornar um ritual Cristão em si durante um Seder. Para o autor de Marcos, Jesus estabeleceu-se como o Messias e o Salvador do mundo dentro de um contexto hebraico, e seguindo as leis e costumes judaicos. Para ele, Jesus é o Filho de Deus, que intercede entre homens e Deus ao morrer por eles (simbolizado pela ruptura do véu sagrado no templo na hora de sua morte.

Literariamente dependente do Evangelho de Marcos, ambos autores dos Evangelhos de Mateus e Lucas seguiram o padrão de narrativa centralizado no evento final do Pessach, mesmo que o autor de Lucas posicionasse o seu Cristo como um Messias universal e menos distintamente judeu (talvez por isso ele tenha adicionado e misturado elementos de outro festival judeu agrícola, o Sukkot, com seu Pessach final).

Embora também (provavelmente) dependente do Evangelho de Marcos, o autor do Evangelho de João decide reduzir a importância do Pessach na narrativa da Paixão de seu Jesus ao transladar a Sua última ceia de uma Seder para uma ceia na véspera do Pessach, desconectando Jesus da participação do festival em si. Não obstante, Jesus é executado a tempo (no 15 Nissan, ao invés de  16 Nissan) para servir como perfeita metáfora para o sacrifício pascoal. Para o autor de João, com sua Cristologia mais elevada que as dos Sinóticos (i.e., Marcos, Mateus, e Lucas), Jesus literalmente vira o sacrifício animal do Pessach e torna-se o Messias. Para ele, Jesus é o Cordeiro de Deus, remendando o relacionamento entre o mundo e Deus da mesma maneira que os animais sacrificados remendavam o relacionamento entre Israel e Jeová (simbolizado por sua morte no momento em que tais animais seriam sacrificados para o Seder).

Apesar do Pessach e do Seder servirem de pontos de referência nas narrativas da Paixão de Cristo, fica evidente uma evolução de transição de uma crença ainda muito ligada às suas raízes judaicas (i.e., nos Sinóticos) para uma desvencilhando-se das práticas culticas delas (i.e., no E-João). Por décadas e séculos, Cristãos ainda celebrariam o Pessach como a passagem de escravidão espiritual para a liberdade através do sacrifício de Cristo. Controversias ocorreram entre Bispos de cidades diferentes, alguns desejando celebra-la no 15 Nissan do calendário hebraico, e outros desejando transferi-lo para um Domingo e desvencilhar-se dos costumes judaicos. Em 325 EC, o Conselho de Nicéia determinou que manteria a celebração da Páscoa como tal passagem, porém desvinculada da celebração judaica, fixando a data no primeiro Domingo após a primeira lua cheia depois do equinócio primaveril (do hemisfério Norte).

Com o passar do tempo, costumes ritualisticos foram se adicionando organicamente ao festival agrícola. O mais óbvio, e o mais inspirado no contexto agrário, é o tema de morte e nascimento, ou plantação e colheita. Para Cristãos, Jesus morreu no Pessach, mas ressuscitou-se no 17 Nissan para nova vida (eterna). Rituais envolvendo a crucificação, o sepultamento, e a ressurreição seguiram, como o ovo de páscoa (simbolizando uma pedra do túmulo, mas de onde sai uma ave cheia de vida — inicialmente, os ovos era coloridos de vermelho, simbolizando o sangue de Cristo). Eventualmente, mais temas das narrativas evangélicas foram incorporadas, como a recepção em Jerusalém com palmas, ceia comemorativa como a Seder final, e jejuns específicos.

Pode-se dizer, então, que o festival de Pessach influenciou a própria narrativa central do Cristianismo e literalmente moldou toda sua teologia e sistema de crenças ao seu redor. Ademais, influenciou em rituais que perduram até hoje e unem as mais distintas facções do Cristianismo em um único festival que (quase) todos Cristãos compartilham.

O grande mistério restante seria: De onde se adicionou a este ritual milenar todo o chocolate?

 

INFLUÊNCIA NO MORMONISMO

Como a maioria dos Cristãos, Mórmons celebram a Páscoa em comemoração à Paixão e Ressurreição de Cristo. Por exemplo, asssista a nova campanha publicitária da Igreja SUD, de alto valor de produção, justamente sobre o tema pascal:

 

Não obstante, a Páscoa não é uma festa religiosa tão importante assim entre Mórmons. Muitos Mórmons sequer celebram o feriado, poucas congregações o fazem além da inclusão de discursos sobre o tema nas reuniões dominicais, e menos ainda extendem para celebrações tão comum em outras religiões Cristãs como Domingo de Palmas ou jejuns especiais na Sexta de Paixão, etc.

Curiosamente, a Igreja SUD nunca foi tão adepta à Páscoa historicamente. Uma busca pelas publicações da Igreja em seus primeiros 100 anos pelo têrmo “Easter” (páscoa em inglês) resulta em apenas 3 menções no periódico ‘Times & Seasons’ (todos eles recontando estórias que ocorreram na Páscoa), e apenas 40 menções em todas as Conferências Gerais neste período! Quando se amplia a buscar para incluir “Passover” (o têrmo inglês utilizado para o Pessach judaico), surgem mais 18 menções, todos narrando ou lendo estórias bíblicas. Tendo em mente algumas das estórias natalinas memoráveis de Joseph Smith, nota-se que não há nenhuma menção de Páscoa em seus escritos ou diários.

Sendo a Páscoa tão ignorada, ou minimamente lembrado, pelos Santos dos Últimos Dias, como se pode dizer que houve uma influência relevante no Mormonismo de toda bagagem cultural e religiosa atribuída à esta festa (como discutido acima)?

Naturalmente, o vídeo recente da Igreja SUD é o perfeito exemplo e resposta à esta pergunta.

Em primeiro lugar, a Páscoa e sua narrativa servem de ponto focal comum entre Mórmons e demais Cristãos. Sempre lutando para se encaixar, assimilar-se, e ser aceito pela sociedade maior, Mórmons frequentemente exploram temas pascais em seus esforços de proselitismo, apostando na ressonância emocional coletiva que o assunto da Páscoa conjura — especialmente entre aqueles com memórias de infância mescladas com temas pascais, ovos coloridos, chocolate e doces, e atividades familiares.

Em segundo lugar, e de longe mais importantemente, toda a teologia e Cristologia Mórmon se ancora nas narrativas elaboradas e literariamente construídas ao redor do Pessach judaico pelos autores evangelistas. Sem o ritual de passagem e redenção divina hebraico onde escorar suas narrativas escatológicas e apocalípticas, os evangelistas teriam estruturado suas Cristologias de maneiras possivelmente bem distintas das que produziram historicamente — e, consequentemente, o Mormonismo, com sua leitura midrashica dos Evangelhos, teria evoluído também de modo bem diferente. É quase impossível conjecturar como, mas certamente diferente.

 

 

 


Enquanto Mórmon, como você celebra a Páscoa? Alguma vez já desejou que houvesse uma celebração maior como em outras religiões? Qual tradição pascal familiar lhe deixou lembranças positivas? Ou qual tradição pascal você tenta legar para os seus filhos/netos? Se você deixou outra religião pelo Mormonismo, sente falta das Páscoas outroras?

 

 

 

 

 


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Livro de Mórmon Votado No. 1

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Cena do Livro de Mórmon, por Arnold Freiberg (2 000 guerreiros adolescentes Ameríndios)

Cena do Livro de Mórmon, por Arnold Freiberg (2 000 guerreiros adolescentes Ameríndios)

Há dois dias atrás, o jornal da Igreja SUD ‘Deseret News’ publicou um artigo regozijando-se que O Livro de Mórmon estava sendo votado como No. 1 numa lista de “livros que mudaram vidas”.

O fundador e CEO do site Mindvalley postou um vídeo solicitando sugestões para livros “que mudaram as vidas” de seus leitores e seguidores para compilar uma lista bibliográfica de auto-ajuda.

No dia 11 de abril, o site Mórmon ‘LDS Media Talk’ publicou um artigo solicitando que membros da Igreja fossem até a página do Mindvalley onde estava ocorrendo a votação online e votassem pelo Livro de Mórmon. A resposta foi intensa, e já no dia 16 de abril o Livro de Mórmon já estava no topo da lista, enquanto tanto o site ‘LDS Media Talk’, como o jornal da Igreja, comemoravam o feito como um exemplo “do que os Santos dos Últimos Dias podem fazer quando defendem o que crêem e compartilham com os outros”.

Mas nem todos enxergaram esta “ação social” como uma coisa positiva.Logo depois dos artigos comemorativos foram ao ar, muitas pessoas viram esta ação coordenada de Mórmons como trollagem religiosa e retaliaram. Em alguns dias, o livro autobiográfico ‘Mein Kampf’ por Adolf Hitler começou a figurar entre os mais votados — continuando a receber mais votos até agora (ver página do YouTube). Possivelmente preocupados com a repercussão negativa de incentir o texto fundador do Nazismo Alemão, o site foi removido do ar e a pesquisa sequer se encontra disponível para consulta.

O que você acha? Trollar votações na internet para fazer O Livro de Mórmon aparecer mais importante na cultura geral é uma método inteligente para dissemina-lo ou melhorar sua relevância religiosa e cultural? E tal sucesso de mobilização online justifica-se como um feito comemorável de coesão social, e serve para melhorar a imagem da comunidade Mórmon num sentido geral?

 

 


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Famoso Cantor Mórmon Sai do Armário

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Vocalista principal da banda de rock alternativa Neon Trees dá entrevista à revista Rolling Stone sobre o que lhe significa ser Mórmon no meio musical e como lidou com a necessidade de, crescendo na Igreja SUD e numa cidade em Utah onde 88% dos habitantes são SUD, manter sua escondida homossexualidade.

 

Tyler Glenn, vocalista da banda Neon Trees

Tyler Glenn, vocalista da banda Neon Trees

A banda Neon Trees foi formada em Provo, Utah. Todos os quatro membros da composição atual (Tyler Glenn, Chris Allen, Branden Campbell e Elaine Bradley) são membros da Igreja SUD. Com fãs fiéis por todos EUA (e até no Brasil), eles são especialmente adorados por seus seguidores Mórmons. Glenn especula, por um momento, como estes fãs Mórmons reagirão com a notícia que o vocalista ídolo da banda de rock Mórmon mais famosa da atualidade é, secretamente, gay.

Tyler Glenn cresceu numa forte comunidade Mórmon no Sul da Califórnia, e desde cedo descobriu sua paixão pela música. Glenn descreve como acordou lentamente para sua orientação sexual, apesar dos esforços constantes e da pressão social para se conformar às expectativas religiosas e hetero-normativas. Como todo adolescente, Glenn se sentia apaixonado de tempos em tempos — não por suas namoradinhas, mas sim por seus amigos homens. Eventualmente, Glenn serviu uma missão de tempo integral por dois anos em Nebraska com afinco, mas relata que em nada lhe serviu para o ajudar a se conformar com tais expectativas hetero-normativas.

 

 

Seu primeiro encontro — e seu primeiro beijo — homossexual ocorreu um mês após voltar de missão e então descobriu o que todo jovem heterossexual descobre em seu primeiro beijo: aquela faísca de atração física hormonal. “Pela primeira vez na vida, descobri o que sempre me faltou numa relação física”. Sentindo-se obrigado a buscar encontros escondidos online, Glenn se diz arrependido de se expor às situações mais perigosas do que acha que teriam sido necessárias doutra maneira.

Glenn relata como sofreu durante os anos iniciais de sua carreira musical com a dúvida e a tensão entre esconder ou assumir sua orientação sexual. Tentando conciliar sua vida familiar e religiosa com sua vida pessoal, Glenn decidiu namorar e casar-se com sua melhor amiga, mas nem esta decisão lhe trouxe conforto ou paz-de-espírito. Até que sua terapeuta Mórmon lhe ajudasse a aceitar-se como realmente é, e romper seu noivado com sua amiga (“Ela rompeu comigo com um bilhete que dizia ‘Eu te amo, mas você nunca vai conseguir me amar como eu preciso que me ame’”), Glenn finalmente encontrou equilíbrio pessoal, emocional, e espiritual para investir criativamente em sua carreira musical.

“Naquela época [do rompimento do noivado] eu fiquei devastado, mas ao mesmo tempo aliviado. A última coisa que eu queria para mim é ser como esses caras aqui em Utah que se casam [com mulheres] e levam uma vida dupla [homossexual]. Há muitos destes caras assim aqui em Utah.”

A banda segue crescendo, em grande parte devido ao talento criativo de Tyler Glenn. Duas de suas músicas foram para trilhas sonoras de filmes de alta bilheteria como Frankenweenie e Iron Man 3, e a popular série de TV Glee.

Tanto sua mãe, como a membro da banda mais religiosa Elaine Bradley, são explícitas em seu apoio de Glenn e sua orientação sexual. Ambas insistem em manter que não há quaisquer conflitos entre sua fé Mórmon e a vida amorosa do filho/colega de banda. Glenn, contudo, mostra-se menos ingênuo e discute abertamente as suas preocupações pessoais para manter tais relacionamentos intactos e saudáveis caso a Igreja volte para nova rodadas de campanhas políticas anti-gay. Não obstante, diz-se otimista para o futuro e aberto para continuar na religião de sua família e de seus amigos e colaboradores.

 

 

 


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Brigham Young, Sobre Honestidade

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Citação de Brigham Young sobre honestidade.

“Há homens nesta comunidade que, pela força da educação que receberam de seus pais e amigos, enganariam uma pobre viúva até lhe tirar sua última vaca apenas para ajoelharem-se para dar graças a Deus pela benção e divina providência que Ele lhes deu para obter uma vaca sem se expor à nenhuma lei dos homens, embora a pobre viúva tenha sido ludibriada.

 

BY Mitt Romney

 

Vemos este aspecto de caráter na humanidade. São tais pessoas capazes de discernirem entre verdade e erro? Não. Mas eles, através de suas tradições, julgam todas as pessoas exceto elas mesmos: pesam cada pessoa na balança da justiça, mas nunca imaginam usa-la em si mesmos. Isto vem da força da educação e falsa tradição em suas mentes, e muitos ainda permanecem ignorantes dos muitos verdadeiros princípios do que é certo e errado, mesmo havendo abraçado o Evangelho.

Até hoje, se você contratar pedreiros para uma obra, muitos trabalharão de modo que a parede ou o edifício durarão apenas alguns anos, e acreditam ser isto honestidade, enquanto eu creia que isto seja desonestidade. Também marceneiros, com algumas exceções, instalam portas, ou frisos, ou telhados ou assoalhos de tal modo que em pouco tempo seus trabalhos estão desajuntados ou inúteis. Muitos, através do poder de uma educação equivocada, não sabem o que honestidade e desonestidade são, e são incapazes de  julgar. Observe artesãos em qualquer ramo de profissão, e verá que o que estou dizendo é verdade. Então você pode pegar toda a classe chamada de negociantes, também os médicos, os sacerdotes de várias seitas, os advogados, e toda pessoa engajada em qualquer ramo de negócio pelo mundo afora e, no geral, eles são ensinados desde a infância a serem mais ou menos desonestos.”

Brigham Young, JD, Vol.6, Pg.70-72, Nov 22, 1857

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Palestras Sobre A Fé

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LoFEntre 1834 e 1835, Joseph Smith apresentou uma série de palestras sobre o tema da Fé em Kirtland, Ohio. Em colaboração com seu Primeiro Conselheiro Sidney Rigdon, Smith preparou as palestras para publicação e elas foram apresentadas pela Primeira Presidência e incluídas na edição de 1835 da Doutrina e Convênios. Em assembléia geral, a Primeira Presidência apresentou esta edição da D&C (incluindo as palestras entituladas ‘Sobre A Fé’) para a Igreja, que votou unanimamente para aceita-la como escritura sagrada e obra padrão da Igreja.

No prefácio da edição de 1835 da Doutrina e Convênios, a Primeira Presidência da Igreja deixa claro o grau de importância que estas palestras deveriam ocupar no canone e na teologia Mórmon:

Aos membros de A Igreja dos Santos dos Últimos Dias.

Queridos irmãos:- Nós achamos desnecessário entrete-los com um prefácio longo e detalhado sobre o presente volume, exceto dizer brevemente que ele contém os itens principais da religião na qual professamos crer.

Na primeira parte do livro [i.e., As Palestras Sobre A Fé] encontram-se uma série de palestras apresentadas neste local [Kirtland, Ohio], e como abraçam a importante doutrina da salvação, nós a editamos para inclusão no presente livro.

A segunda parte contém itens ou princípios para o regulamento da Igreja como tirados das revelações que nos foram dadas desde sua organização, bem como de outras precedentes.

Poderá haver aversão nas mentes de alguns contra o recebimento de qualquer coisa se propondo como artigo de fé, por haver muitos destes já existentes; mas se homens crêem num sistema, e professam que este foi recebido por inspiração, certamente quão mais inteligivéis forem apresentados, tão melhor. Não se torna um princípio verdadeiro em falso simplesmente por publica-lo, da mesma maneira que publicando-o não tornaria o falso em verdadeiro.A Igreja, crendo este assunto como de grande importância, designou, através de seus servos e delegados do Sumo Conselho, seus servos para selecionar e compilar esta obra. Várias razões pode sem compreendidas em favor desta obra pelo Conselho, mas nós adicionamos apenas algumas palavras. Eles sabiam que a Igreja estava sendo mal-falada em muitos lugares, e sua fé e crenças mal-interpretadas, e o caminho da verdade assim corrompido. Por alguns se dizia que descremos da Bíblia, por outros que representamos o inimigo de toda boa ordem e retidão; e ainda por outros que tumultuamos a paz dos governos civis e políticos.

Dedicamo-nos, portanto, a apresentar, embora em poucas palavras, nossa crença, e assim dizendo humildimente esperamos, nossa fé e nossos princípios enquanto sociedade e coletivo.

Não publicamos este volume com qualquer outra expectativa além de que seremos chamados para responder por todo e qualquer princípio aqui exposto, naquele dia quando os segredos de todos os corações serão revelados, e as recompensas do trabalho de todo homem lhe for entregue.

Com sentimentos de grande estima e sincero respeito, subscrevemo-nos seus irmãos nos grilhões do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo,

Joseph Smith, Jun.,
Oliver Cowdery,
Sidney Rigdon,
Frederick G. Williams.

Por 86 anos estas palestras fizeram parte das escrituras Mórmons. Contudo, em 1921 a Igreja SUD removeu as Palestras Sobre A Fé da nova edição da Doutrina e Convênios sem quaisquer explicações além da historicamente equivocada afirmação de que elas “nunca haviam sido apresentadas ou aceitas pela Igreja” como escritura sagrada. Desde então, elas quase que sumiram do consciente coletivo SUD e poucos Mórmons sabem sobre elas e menos ainda as estudaram.

JoeApesar da importância histórica e teológica das Palestras Sobre A Fé para o Mormonismo, a falta de disponibilidade deste texto importante para os leitores lusófonos se explicar pelo simples desencontro cronológico: Os primeiros missionários Mórmons a pregar em Português vieram muito depois de sua súbita exclusão do canone das obras padrões (no Brasil em 1939, em Portugal em 1974, etc.).

Quem estiver interessado, por agora, pode-se ler as palestras em inglês pelas imagens fotocopiadas da edição de 1835 da Doutrina e Convênios publicadas pela Igreja SUD, ou o texto completo publicado pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (sede em Winsconsin; popularmente conhecida como Igreja SUD Strangita) ou o texto completo publicado pelas igrejas RSUD fundamentalistas.

Entre alguns trechos de maior interesse, estão estes:

“Contudo é igualmente necessário que os homens tenham a noção de que Ele seja um Deus inalterável, de modo que tenham n’Ele fé, tanto quanto é ter a noção de que Ele seja gracioso e longânime; pois sem a ideia da imutabilidade do caráter da Deidade, dúvida tomará o lugar da fé. Porém com a noção de que Ele não muda, fé se sobrepõe nas qualidades de seu caráter com fé inabalável, crendo que Ele é o mesmo ontem, hoje, e para sempre, e que Seu curso é um círculo eterno.”

“Tanto quanto o Filho possui a plenitude do Pai através do Espírito, assim os Santos possuirão, através do mesmo Espírito, a mesma plenitude, para gozar da mesma glória; porquanto o Pai e o Filho são um, e similar maneira, os Santos serão n’Eles um. Através do amor do Pai, a mediação de Jesus Cristo, e o dom do Santo Espírito, serão herdeiros de Deus, e co-herdeiros com Jesus Cristo.”

“É coisa vã para que se pensam de si mesmos que são, ou podem ser, herdeiros com aqueles que sacrificaram tudo de si, e assim obtiveram fé em Deus e a Sua graça para si de modo a obter vida eterna, a menos que estas pessoas ofereçam, de maneira similar, o mesmo sacrifício, e através desta oferenda obter o conhecimento de que são aceitos por Ele.”

“Contudo, aqueles que não fizeram este sacrifício a Deus não sabem se o rumo que tomam é agradável aos olhos de Deus; …porquanto onde dúvida e incerteza estão, ali não haverá fé, nem pode haver. Pois dúvida e fé não existem na mesma pessoa ao mesmo tempo; assim que pessoas cujas mentes acolhem dúvidas e medos não podem possuir confiança inabalável; … onde fé é fraca, as pessoas não conseguirão contender com toda a oposição, tribulações e aflições que terão que encontrar para se tornarem herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo Jesus; e cansarão em suas mentes, e o adversário terá poder sobre eles para os destruir.”

“…a glória da qual o Pai e o Filho gozam resulta de serem seres justos e santos; e se lhes faltasse um atributo ou perfeição que já possuem, a glória da qual gozam jamais lhes poderia pertencer, pois se lhes requer ser precisamente o que são de modo a dela gozarem; e caso o Salvador compartilhe desta glória a quaisquer outros, Ele o deve fazer da exata maneira estabelecida em sua prece ao Pai — fazendo-os um consigo assim como Ele é um com o Pai. Assim fazendo, Ele repassa-lhes a glória que o Pai lhe entregou; e quando Seus discípulos se tornão um com o Pai e o Filho, assim como o Pai e o Filho são um, quem não pode enxergar a propriedade do dizer do Salvador: ‘Aquele que acredita em mim fará as mesmas coisas que eu faço. E fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o meu Pai.‘ (João 14:12)”

“Os ensinamentos do Salvador claramente demonstram-nos a natureza da salvação, e o que Ele propôs à família humana quando lhes propos salva-los — que Ele os propos faze-los como Ele é, e Ele era como o Pai, o grande protótipo de todos os seres salvos…”

“Há dois personagens que constituem o grande, incomparável, supremo poder governante sobre todas as coisas — através de quem todas as coisas foram criadas e feitas, visíveis ou invisíveis, nos céus ou na terra, ou dentro da terra, ou sob a terra, ou por toda imensidão do espaço — São Eles o Pai e o Filho: O Pai, sendo um personagem de espírito, glória e poder, possuindo toda perfeição e plenitude; O Filho, que estava no seio do Pai, um personagem de tabernáculo, feito ou moldado como um homem, ou sendo na forma e semelhança de um homem, ou melhor, o homem fora formado em sua imagem e semelhança; — Ele é também a imagem expressa e semelhança do Pai, possuindo toda a plenitude do Pai, ou a mesma plenitude que o Pai; sendo gerido por Ele, e ordenado desta a fundação do mundo para a propriciação dos pecados de todos aqueles que crerem em Seu nome, e é chamado de Filho por causa da carne — e desceu em sofrimento abaix de tudo o que um homem pode suportar, ou, em outras palavras, sofreu maiores sofrimentos, e foi exposto às mais poderosas contradições que qualquer homem pode ser exposto. Não obstante tudo isto, guardou a lei de Deus, e permaneceu sem pecado: Mostrando, assim, que é possível para o homem guardar a lei e permanecer também sem pecado… E Ele sendo o unigênito do Pai, cheio de graça e verdade, e havendo sobrepujado, recebeu da plenitude da glória do Pai — possuindo a mesma mente com o Pai, cuja mente é o Espírito Santo, que testifica do Pai e do Filho, e estes três são um, ou em outras palavras, estes três constituem o grande, incomparável, supremo poder governante sobre todas as coisas: através de quem todas as coisas foram criadas e feitas que foram criadas e feitas: e estes três constituem a Trindade e são um: O Pai e o Filho possuindo a mesma mente, a mesma sabedoria, glória, poder e plenitude: Preenchendo tudo em tudo — o Filho preenchido com a plenitude da Mente, glória e poder, ou em outras palavras, o Espírito, glória, e poder do Pai — possuindo todo conhecimento e glória, e o mesmo reino: sentado à mão direita do poder, na expressa imagem e semelhança do Pai — um Mediador para o homem — sendo cheio da plenitude da Mente do Pai, ou em outras palavras, do Espírito do Pai: qual Espírito é distribuído para todos que acreditam no Seu nome e guardam Seus mandamentos: e todos que guardam Seus mandamentos crescerão de graça em graça e tornar-se-ão herdeiros no reino celestial, e co-herdeiros com Jesus Cristo; possuindo a mesma mente, sendo transformados na mesma imagem ou semelhança, sim na imagem expressa d’Ele que tudo preenche: sendo preenchido com a plenitude de Sua glória, e tornando-se um com Ele, assim como o Pai, o Filho, e o Espírito Santo são um.”

É impossível, como se pode ver por estes simples exemplos, compreender no que acreditava Joseph Smith em 1835 sem estudar as Palestras Sobre A Fé. A Igreja SUD, assim como várias outras igrejas Mórmons (embora não, obviamente, todas), abandonaram-na pelo caminho, incorporando visões sobre a Trindade, Deus, o Espírito Santo, a natureza da fé, etc., diferentes das esposadas pelo Profeta Joseph Smith em Kirtland, Ohio, mas estas mudanças posteriores em nada diminuem a importância ou a relevância histórica e teológica destas palestras para o Mormonismo, então em sua fase nascente.

 

 

 

 


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Líderes Mórmons Preocupados Com Deserção De Jovens

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Líderes Mórmons e Adventistas planejam campanha publicitária

Líderes Mórmons e Adventistas planejam campanha publicitária em colaboração inter-religiosa.

Na semana passada o Apóstolo Tom Perry e o Presidente dos Setenta Ronald Rasband se reuniram com líderes da Igreja Adventista do Sétimo Dia para discutir uma campanha publicitária conjunta.

Detalhes da campanha não foram discutidas publicamente, mas pelos comentários feitos pela liderança Mórmon, dois focos principais ficaram evidentes.

A reunião ocorreu na sede Adventista em Maryland e incluiu a presença doVice-Presidente da Igreja Adventista Lowell Cooper. A julgar pelos comentários à mídia, os dois pontos principais da campanha serão:1) Reverter A Tendência De Crescimento Negativo Entre Jovens

Durante a entrevista coletiva, o Apóstolo Tom Perry comentou:

Precisamos encontrar um jeito de manter a fé viva nos jovens entre 14 e 35 anos de idade, para que esta fé cresca como eles, de modo a terem uma fundação para suas vidas.

A Igreja SUD está passando por problemas demográficos. Os dados estatísticos sugerem que ela não está mais crescendo além da reposição populacional natural, e alguns dados ainda sugerem que há enormes taxas anuais de deserção. Enquanto a Igreja Adventista do Sétimo Dia  pode se gabar de 18 milhões de membros batizados com uma taxa de frequência semanal de entre 25 e 30 milhões, a Igreja SUD insiste em fingir que seus 15 milhões de membros batizados representam bem uma taxa de frequência semanal de entre 4,5 e 5,2 milhões (números estimados por múltiplos estudos, visto que os dados oficiais são secretos sagrados).

Apóstolo SUD Tom Perry em encontro com líderes Adventistas

Apóstolo Tom Perry da Igreja SUD em encontro com líderes da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Obviamente, os líderes Mórmons não são ignorantes sobre os seus próprios problemas estatísticos, e a evidência de preocupação demonstrada pelo Apóstolo Perry sugere que a deserção por parte dos jovens SUD é um foco ainda maior e mais específico de inquietação. As mudanças de 2 anos atrás no programa missionário da Igreja, que já há décadas produz resultados pífios, fazem mais sentido dentro deste contexto de contenção de evasão e retenção de jovens do que em maior investimento no esforço de proselitismo.

Embora os detalhes demográficos dos problemas populacionais dos jovens SUD não tenham sido publicados, estudos recentes vem sugerindo que há um crescente hiato em religiosidade entre as gerações prévias e a Geração Y (nascidos entre 1980 e 2000). O próprio comentário de Perry sugere que o foco de preocupação gira em torno desta geração, posto que nenhum outro critério demográfico justifica classificar adolescentes (14-19) com jovens (19-25), jovens adultos (26-31) e adultos (31-35) para uma análise comportamental.

Ainda mais relevante é um estudo publicado há 2 meses que sugere que o principal fator para o abandono de religiões organizadas entre os membros da Geração Y são as campanhas anti-gays das igrejas Cristãs tradicionais. Este estudo é apenas mais uma confirmação de uma tendência clara que já vem se manifestando há mais de uma década.

Portanto, ao que tudo indica, há um desassossego na liderança SUD com as altas taxas de evasão entre os jovens SUD da Geração Y, e possivelmente uma boa parte desta evasão é motivada pela insistência nos ensinamentos homofóbicos da Igreja SUD. O que nos leva ao segundo ponto desta campanha publicitária:

2) Consolidar A Pregação E As Campanhas Homofóbicas

Durante a entrevista coletiva, o Presidente dos Setenta Ronald Rasband comentou:

Num mundo que necessita de mais fé, mais foco na família, e agora uma defesa da liberdade de religião, nós estamos tentando nos unir com pessoas de boa fé como vocês para ajudar a lutar estas batalhas básicas pelo mundo afora.

Para o leitor atualizado, as frases “liberdade de religião” e “foco na família” são os eufemismos Mórmons para “campanha anti-gay”.

Para o leitor desatualizado, não existem “batalhas básicas” contra “liberdade de religião” no Ocidente, muito menos nos EUA onde esta nova campanha publicitária será veiculada. Em nenhum momento das últimas décadas nos EUA houve qualquer ameaça à liberdade de religião. Muito menos da parte da sociedade que apoia direitos civis básicos para cidadãos LGBT. Quando líderes Mórmons se queixam de “ameaças” à “liberdade de religião”, em realidade eles estão se queixando de críticas da sociedade e condenações da opinião pública às suas campanhas políticas contra direitos civis para homossexuais.

Tom Perry visita sede Adventista para estrategizar campanha publicitária

Tom Perry visita sede Adventista para estrategizar campanha publicitária preventiva.

Durante a multimilionária campanha política de 2008 para remover direitos civis básicos de gays na Califórnia, a Igreja SUD sofreu pesadamente com críticas e protestos pelo seu papel central (e financeiro) na campanha, que apenas se intensificaram com a vitória Mórmon nas urnas. Esta mancha na imagem pública da Igreja a obrigou a investir em campanhas publicitárias multimilionárias e a apoiar, pela primeira vez, algumas leis proibindo discriminação contra gays. Não obstante, a julgar pelos pronunciamentos recentes das autoridades da Igreja, não parece haver qualquer arrefecimento nas intenções da Igreja institucionalmente buscar apoio para outras leis homofóbicas, como os direitos de casamento ou de paternidade.

A Igreja SUD goza de plena liberdade para pregar os ensinamentos que bem lhe prouver. Todas as pessoas, individual ou coletivamemente, gozam da liberdade de concordar ou discordar destes ensinamentos, e ainda de criticar a Igreja SUD se acharem importante. Se a Igreja deseja ensinar que homossexuais serão condenados, isso lhe pertence como direito

Evolução da opinião pública sobre a legalização do casamento homossexual

Evolução da opinião pública sobre a legalização do casamento homossexual mostra uma sociedade cada vez menos preconceituosa contra gays, especialmente entre as gerações mais jovens.

religioso, e ninguém advoga para lhe remover tal liberdade. Se a Igreja deseja continuar gastando tempo e dinheiro tentando forçar, legalmente, esta visão na sociedade americana (curiosamente, a Igreja SUD não vem gastando tempo e dinheiro contra gays no Brasil, ou na América Latina, ou na Europa), isso também lhe pertence como direito civil, e ninguém advoga para lhe remover tal liberdade. Agora, a julgar pela evolução progressiva da opinião pública, a Igreja não pode reclamar se for cada vez mais criticada — ou se assistir sua imagem pública cada vez mais negativada — ao persistir com este preconceito institucionalizado. Insistir que tal crítica pública, ou imagem pública negativa, constitui uma “ameaça à liberdade religiosa” é simplesmente um argumento desonesto.

Ademais, foi-se a época em que o foco da Igreja SUD, ao menos em seus esforços comunitários, era proteger a instituição da família, quando a Igreja produzia e veiculava excelente e inteligente campanhas televisivas que estimulavam o apreço por valores familiares. Nas décadas de 1970 e 1980, os comerciais da Igreja enfatizavam discussões relevantes sobre problemas que famílias encaram na vida moderna. (Assista abaixo alguns dos melhores da série “Homefront” ou outros aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui)

Desde quando a Igreja se comprometeu abertamente a combater direitos civis para gays com a publicação da “A Família—Proclamação ao Mundo” em Setembro de 1995, a noção de “proteger a família” migrou para longe do conceito de preocupar-se com os problemas afligindo a família moderna (e.g., falta de tempo, endividamento, ausência paternal, abuso infantil, divórcio, adultério, etc.) e mais para o conceito de preocupar-se em destruir famílias homoafetivas (i.e., casais homossexuais ou transgênero). Verdade seja explicitamente dita, as campanhas contra casamento gay em nada fortalecem as famílias heteronormativas, ou lhes ajuda a navegar os desafios da vida no século XXI, mas apenas servem para dificultar, marginalizar e condenar famílias homoafetivas ao ostracismo social e jurídico.

Matando Dois Cajados Com Uma Coelhada?

Aparentemente, os dois pontos centrais para a Igreja SUD desta campanha publicitária conjunta com Adventistas, então, são estancar a perda demográfica de jovens e coibir as críticas públicas contra as campanhas homofóbicas. Baseado nos comentários — e na lista de presentes — da parte da liderança Adventista, a preocupação maior está com a percepção pública do movimento anti-gay (com o qual a IASD segue bastante engajada) e não com a evasão de jovens (onde, parece, que a IASD não está sofrendo como a Igreja SUD).

Ironicamente, contudo, ambos problemas estão ligados de maneira inexorável e, infelizmente para a liderança SUD, inversamente proporcional. Os estudos de opinião pública, extrapoláveis para a população jovem SUD, sugerem que o preconceito anti-gay é uma parte considerável do problema que incentiva a Geração Y a evadir-se da Igreja enquanto instituição, e uma campanha publicitária para proteger tal preconceito institucional apenas servirá como maior incentivo para tal afastamento.

Não entrando na discussão sobre a (falta de) moralidade ou ética da institucionalização do preconceito ou mesmo dos seus (des)méritos jurídicos, apenas avaliando esta postura do ponto de vista tático a campanha está, desde sua incepção, fadada ao fracasso. Cada vez mais perceber-se-á que os ataques contra famílias homoafetivas nada tem a ver com “foco em família” ou “liberdade de religião”, e o preconceito (apenas levemente) velado servirá de ponto de afastamento a números cada vez maiores de jovens que, por motivos geracionais, enxergam a homossexualidade como condição humana normal e congênita e abraçam conceitos como igualdade e justiça social mais liberal e abrangentemente.

Produzida, terminada, executada e veiculada esta campanha, e outras que certamente a seguirão, a liderança SUD acabará na desconfortável posição de precisar ponderar e recalibrar suas estratégias. Aceitará ela que as novas gerações não compartilham de seus preconceitos, conformando-se com números de fieis progressivamente menores? Ou assumirá os erros do passado e moldar-se-á para se acomodar a novas sensibilidades de ética e justiça social, como fez com poligamia e o racismo institucional?

 

 


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Movimento Mórmon Ordene As Mulheres Lança Campanha

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Comemore o aniversário de 185 anos da Restauração do Sacerdócio com o ‘Ordene as Mulheres’!

O movimento ‘Ordain Women’ (‘Ordene as Mulheres’) anuncia o lançamento de 6 Palestras sobre a questão de ordenação de mulheres ao Sacerdócio. A primeira palestra será lançada no dia 15 de maio, aniversário histórico da restauração do Sacerdócio Aarônico, e elas o farão em estilo, com uma festa pública ao vivo com as líderes do OM através de Google Hangout às 22 horas (horário de Brasília).

Para quem tem conta Google+, o evento poderá ser assistido ao vivo aqui, e elas estarão disponíveis para responder perguntas ao vivo, enviadas pelo Google+ ou pelo Twitter delas. Para quem não tiver conta Google+, o evento também estará disponível no site oficial delas ou no seu canal do YouTube.

Seis Palestras do Ordene As Mulheres: 1) Reconheça os sintomas; 2) Conheça a história; 3) Estude as escrituras; 4) Deleite-se na revelação; 5) Enxergue nosso potencial; 6) Seja a mudança

Seis Palestras do Ordene As Mulheres: 1) Reconheça os sintomas; 2) Conheça a história; 3) Estude as escrituras; 4) Deleite-se na revelação; 5) Enxergue nosso potencial; 6) Seja a mudança

Como preparação para o grande evento, elas lançarão literatura auxiliar com dicas para como iniciar um grupo de discussões sobre ordenação de mulheres no dia 8 de maio, e elas estarão abertas para discutir estes materiais durante o evento, também. Para que todas tenham a oportunidade de ler a primeira palestra na íntegra, uma semana após este evento inicial haverá um debate ao vivo para conversar sobre ela, no dia 22 de maio, também às 22 horas (horário de Brasília).

Quem tiver interesse, já pode RSVP no Google+ ou no Facebook, e aproveitando as duas semanas de antecipação, convidar suas amigas ou amigos para participarem. Infelizmente, os eventos e as palestras estarão inicialmente apenas disponíveis na língua inglesa, mas para quem não se sentir confortável com o inglês, nós da ABEM tentaremos disponibilizar traduções de trechos, resumos, e textos completos o mais rápido possível.

Eis um vídeo-anúncio com Kate Kelly, a fundadora do Ordene As Mulheres:

 

 

 


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Revistas da Igreja Cedem Às Mulheres

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As revistas oficiais da Igreja SUD A Liahona e Ensign se entregam ao movimento Ordene As Mulheres e publicam quadros das Autoridades Gerais da Igreja incluindo as mulheres que presidem as organizações auxiliares, pela primeira vez na história.

Para quem ainda não sabe, o movimento Ordene As Mulheres se organizou no ano passado para pressionar incentivar as Autoridades Gerais da Igreja à uma maior inclusão feminina na liderança, inclusive à ordenação ao Sacerdócio.

O progresso vem sido lento e pequeno, mas palpável. Uma mulher finalmente ofereceu oração em plena Conferência Geral, mulheres da liderança geral foram sentadas no púlpito durante Conferência Geral, e agora elas estão sendo incluídas no organograma propagandístico oficial.

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Certamente são avanços importantes, e certamente não serão suficientes para as irmãs da Igreja que desejam ser valorizadas e incluídas em pé de igualdade com os homens. O movimento Ordene As Mulheres seguirá adiante com a sua próxima fase de ativismo com a festa de comemoração da restauração do Sacerdócio Aarônico em duas semanas, com transmissão ao vivo pela internet.

 

 

 


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Desafio: Dois Templos Mórmons

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Templos Mórmons, hoje em dia, são mais uniformes que individualizados, mais padronizados do que estilizados.

Para alguns isto parece oferecer uma identidade coletiva maior, facilitando uma identificação subconsciente fácil e inequívoca destes prédios com o Mormonismo. Para outro isto parece reduzir a personalidade e as idiosincrasias das comunidades e regionalismos representandos por cada templo, pasteurizando e homogeinizando a experiência religiosa.

Templo de Ogden, em sua encarnação original

Templo de Ogden, em sua encarnação original

Recentemente, o Templo de Ogden em Utah foi submetido à uma renovação que, muito além de atualiza-lo para padrões estruturais de engenharia, reformulou-o por completo para enquadrar-se dentro do novo paradigma arquitetônico Mórmon moderno. O que era um templo singular (na verdade, ele fazia par com seu gêmeo idêntico, o Templo de Provo), com características

Templo de Ogden, em sua encarnação moderna

Templo de Ogden, em sua encarnação moderna

idiosincráticas a seu tempo e sua localidade, agora é mais um templo Mórmon tão similar a qualquer outro.

Há dois templos Mórmons que permanecem, por questões históricas, distintos em sua arquitetura singular e única. O desafio de hoje é nomear quais templos são estes e quais os contextos históricos que justificam suas fachadas tão distintas e diferentes da tendência pasteurizada atual. Bonus para quem notar qual alteração moderna introduziu-se para forçar um sentido de comunalidade e continuidade.

Templo #1

Templo

Templo #2

Templo

 

 

 

 


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Revista da Igreja Re-escreve História

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Texto Original por Kristy Money

Em 6 de Março de 2014, o jornal The New York Times publicou um artigo na sequência de sua matéria de primeira capa sobre missionárias SUD entítulada “Das Mulheres Mórmons, Uma Enxurrada De Respostas E Perguntas Sobre Seus Papéis”. Neste artigo, além de citar a Kate Kelly falando sobre o movimento Ordene As Mulheres e recitar a minha experiência ao ser negada a oportunidade de segurar minha bebê enquanto ela seria abençoada, os autores chamaram a atenção o então quadro de Autoridades Gerais da Igreja, com uma foto ilustrando que “sacerdotes e autoridades governantes formam uma galeria exclusivamente masculina de líderes.” Diferentemente da matéria principal de capa do The New York Times que focava nas “sisteres” missionárias, que foi publicamente exposta e comentada pelo site de notítcias oficial da Igreja SUD em sua página principal (apesar deste vídeo que acompanhava, embora escondido, sobre mulheres e o sacerdócio, e colocava a questão do tema de interesses femininos sob u prisma negativo), este segundo artigo do The New York Times não recebeu nenhuma menção ou comentário da qualquer fonte oficial da Igreja. Não obstante, muitos membros da Igreja se sentiram incomodados com este segundo artigo e a internet explodiu com críticas em blogues e comentários no Facebook, culpando a mídia liberal, culpando entrevistadas como eu, e culpando organizações como o Ordene As Mulheres por — em suas mentes — fazer o público acreditar que a Igreja seja machista.  Pessoalmente, eu respondi a estas críticas (em inglês) aqui.

Eu tive uma experiência maravilhosamente edificante participando dos eventos na Praçao do Templo no dia 5 de Abril p.p., durante a Sessão do Sacerdócio da Conferência Geral com meu marido e meu bebê recém-nascido, embora tivesse me entristecido com a postura equivocada e defensiva do Departamento de Relações Públicas com o seu release para a imprensa  mais tarde no mesmo dia. Jamais me esquecerei do quão corajosas nos sentimos e do espírito de camaradagem que tomou conta de nosso reverente grupo de 500 irmãs, com mais 400 presentes vicariamente. Também me exaltei ao abrir minha cópia do Relatório da Conferência na edição de Maio de 2014 da revista ‘Ensign’, ao perceber que o quadro de Autoridades Gerais havia sido atualizado tanto na versão impressa como no site oficial da Igreja de modo a incluir nove Oficiais Gerais mulheres da Sociedade de Socorro, da Organização das Moças, e da Primária. A visibildiade de mulheres realmente importa, e reconheci isto como um importante passo adiante, sendo esta a primeira vez que a Igreja havia incluído estas mulheres no quadro geral oficial de Autoridades Gerais. O movimento Ordene As Mulheres publicamente reconheceu esta mudança no dia 3 de Maio de 2014, comemorando o esforço da Igreja, e repassando o link mostrando que mulheres haviam sido incluídas no quadro geral (sem tomar qualquer parcela de crédito para si) “pela primeira vez na história SUD” por toda mídia social.

Alguns dias atrás, contudo, eu estava folhando uma cópia em PDF que havia baixado da edição de Novembro de 2013 da revista ‘Ensign’ (o relatório da Conferência Geral anterior) no site da Igreja e percebi, para minha surpresa, a presença do mesmo tão-celebrado quadro com as nove mulheres das Auxiliares, disposto na exata mesma página onde o quadro antigo exclusivamente masculino estivera. Teria eu me equivocado em minha memória? Era esta quadro notícia antiga, no final das contas? Como a fotocópia abaixo, tirada da versão impressa da mesma edição, enviada pelo correio em Novembro de 2013, claramente demonstra, o quadro novo com as mulheres havia sido a posteriori incluído para substituir o quadro antigo. O site oficial da Igreja havia simplesmente re-escrito a história!

ensign edit

Imagem da esquerda tirada de uma impressão de tela da revista oficial norte-americana ‘Ensign’, de Novembro de 2013, direto do site da Igreja lds.org (pdf desta edição encontra-se aqui) no dia 5/5/2014.  Imagem da direita é uma fotocópia da edição impressa da mesma página e edição da mesma revista, enviada pelo correio em Novembro de 2013. A edição impressa em 2013 traz o quadro de Autoridades Gerais exclusivamente masculino. A versão em PDF da mesma edição traz uma versão alterada deste quadro, após eventos recentes incluindo críticas ao quadro pelo jornal The New York Times e pelo ativismo do movimento Ordene As Mulheres durante a Sessão de Sacerdócio no dia 05 de Abril passado próximo.

 

Estou perfeitamente disposta a dar aos editores da Igreja o benefício da dúvida que esta mudança silenciosa e a posteriori na versão online da edição de Novembro de 2013 tenha sido feita com as melhores das intenções. Contudo, eu não creio que eles percebam o quão desonesto isto parece, o quanto isto reforça a mágoa que muitas Mórmons feministas, como eu, havíamos sentido quando a porta-voz da Igreja Jessica Moody, no 17 de Março de 2014 (apenas 11 dias após a publicação do segundo artigo do The New York Times acima-mencionado), declarou num release oficial da Igreja para a imprensa que o movimento Ordene As Mulheres estava “distraindo” de “diálogos produtivos” sobre mulheres na Igreja.

Em resposta, a jornalista Joanna Brooks escreveu o seguinte:

“Se ocorre qualquer tipo de ‘diálogo’ sobre igualdade de gênero no Mormonismo, certamente não ocorre porque a Igreja o instiga ou mesmo o apoia. Ocorre porque gerações de Mórmons feministas vem continuando a postular questões fiéis, porém agitadoras, para a fé que tango amamos, mesmo quando ela nos desencoraja, nos rejeita, e nos desrespeita… A mídia nacional [dos EUA] -– inclusive o The New York Times -– tem feito mais para reconhecer e incentivar pro-ativamente o diálogo sobre questões femininas no Mormonismo que a própria Igreja SUD, que tem estado apenas na defensiva nestas questões há décadas.”

Este é um sentimento que ressona comigo, e é bem exemplificado por este re-escrevimento de história na surdina.

Eu pessoalmente tenho testemunhada as ações desde a fundação do movimento Ordene As Mulheres em Março de 2013, e os artigos do The New York Times, que vem avançado mudanças para maior inclusão de mulheres na Igreja que tanto amo. Eu espero e oro para que os líderes da Igreja sejam mais pro-ativos e abertos sobre como responder a questões das mulheres. Mudanças de quadros a posteriori — ou insistir que planos para incluir retratos das mulheres no Centro de Conferência no começo de 2014 haviam sido deliberados após anos de discussões entre líderes da Igreja, ou que a histórica decisão para mudar a tradição e passar a transmitir publicamente a Sessão do Sacerdócio pela primeira vez na história para que mulheres também a pudessem assistir, em nada tiveram a ver com a petição pública do Ordene As Mulheres em Outubro de 2013 por permissão para participar desta — parecem atitudes defensivas. Eu tenho certeza de que esta não é a mensagem que os líderes da Igreja querem passar às membros mulheres fiéis e com recomendações ao templo, como eu, mas é o que eu vejo nestas atitudes, especialmente com esta mudança, na surdina, nas fotos da versão online da revista oficial da Igreja.

Texto Original por Kristy Money, reproduzido com permissão. Leia outro texto da mesma autora aqui. Leia mais sobre o movimento Ordene As Mulheres aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 

 

 

 


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Racismo no Mormonismo

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Não Ao Racismo“De pequenino é que se torce o pepino”, já dizia o ditado popular.

Racismo, como toda forma de preconceito, é um dos grandes males da humanidade. Ele pode ter suas raízes em simples ignorância e medo, ou pode crescer de pura maldade e imoralidade. Ele pode ser ensinado e passado de pessoa a pessoa, de geração em geração, ou pode ser instintivo e patológico. Porém, independentemente de onde o racismo nasce, ele é facilmente assimilado por crianças apenas começando a formar suas visões do mundo adulto ao seu redor. Crianças têm, por motivos óbvios, dificuldades para enxergar nuances, preferindo estabelecer padrões claros e sem ambiguidades de certo e errado, de bem e mal, e preto e branco. Quando os adultos em suas vidas ainda arrastam as mesmas dificuldades, esta inabilidade rapidamente favorece a formação de preconceitos.

Toda forma de preconceito é danosa e perigosa. Nenhuma forma, contudo, é mais danosa que aquela dirigida a si mesmo.

Eu não sei como eu nunca havia assistido este vídeo antes, mas ele simplesmente partiu o meu coração. A agência Mexicana de “publicidade social” 11.11 Cambio Social filmou uma representação de estudos científicos realizados pelo casal Clark (Mamie e Kenneth) da década de 1940. Os Clarks usavam bonecos de cores diferentes, representando raças e etnias distintas, e observavam as interações de crianças com esses bonecos distintos para estudar a importância de representações raciais e étnicas para elas. Os estudos são clássicos na literatura científica e, mais importantemente, ainda influenciaram históricas decisões judiciais nos EUA durante os anos do movimento de direitos civis e impactaram profundamente as relações raciais, tanto nos EUA, como no mundo — inclusive no mundo Mórmon.

Não obstante, nenhuma leitura científica consegue impactar tanto como uma imagem, ou um vídeo. E este é simplesmente inesquecível. Assita:

Os estudos dos Clark avaliaram a percepção de crianças negras em escolas segregadas versus crianças em escolas dessegregadas. Eles demonstraram claros sinais de “racismo internalizado” e “ódio próprio” como se vê no vídeo mexicano acima, porém mais importantemente, demonstraram que as crianças em escolas segregadas demonstraram sinais mais intensos e mais óbvios de “racismo internalizado” e “ódio próprio”.

As crianças nos estudos do casal Clark, e em vários estudos confirmatórios subsequentes (e mesmo na apresentação acima), apresentaram claros sinais de “racismo internalizado” de modo a expressar atitudes racistas e preconceituosas contra seu próprio grupo étnico, aceitando estereótipos negativos de sua própria raça e fantasias positivas sobre outra(s) raça(s). Esta internalização de estereótipos raciais negativos de sua própria etnia lhes força a própria descaracterização racial (buscando enxergar-se como ligado à outra raça que não a sua) e a “ódio próprio”, tipificado por baixa auto-estima, sensação de vergonha e complexo de inferioridade.

Estes conceitos não são exclusivos do preconceito contra minorias raciais e repetem-se frequentemente em instituições de preconceito contra minorias de gênero e de orientações sexuais. Contudo, a subjugação de minorias raciais serve de parâmetro de julgamento e avaliação por tratar-se de uma atitude mais óbvia e tangente, e portanto mais perniciosa e maléfica.

Mormonismo

Esta questão do “ódio próprio” e do “racismo internalizado” é muito relevante e contundente dentro do contexto Mórmon. Pessoalmente, eu nasci Mórmon e cresci na Igreja SUD e passei por anos de conflito interno sobre questões raciais na minha infância e adolescência.

Eu tive a felicidade de nascer homem e heterossexual, o que reduziu qualquer percepção de preconceito contra mim baseado nestes parâmetros sociais. Contudo, eu cresci numa Igreja que segregava Negros das demais raças e etnias como pertencendo a um status social (e espiritual) inferior, ouvindo inúmeras argumentações racistas (comuns até hoje) e estereotipagens negativas para justificar uma política racial oficial simplesmente injustificável. Apesar de não ser Negro, o racismo contra Negros não é o único preconceito racial institucionalizado no Mormonismo!

O Livro de Mórmon ensina que a cor de pele escura é um sinal claro de maldição divina (ler aqui, aqui, aqui, aqui, e aqui).

E [Deus] fez cair a maldição sobre eles, sim, uma dolorosa maldição, por causa de sua iniqüidade… e como eram brancos, notavelmente formosos e agradáveis, a fim de que não fossem atraentes para meu povo o Senhor Deus fez com que sua pele se tornasse escura.

A raça normativa Mórmon é a caucasóide (i.e., Branca). Ela compõe não apenas a maioria, como a maioria esmagadora da classe dominate (i.e., a liderança espiritual e administrativa). Há 30 anos atrás, recém-saídos de 13 décadas de segregação racial, era quase que a raça exclusiva na Igreja SUD, sendo o estereótipo popular a do Mórmon gringo de aspecto escandinavo. Eu cresci ouvindo estórias do Bispo da minha mãe ameaçando não oficializar o seu casamento com o meu pai (pálido de tão branco, e fã confesso de Hitler de tão racista) caso não pudesse comprovar a ausência de quaisquer antepassados Negros. Eu cresci conjecturando, com meu irmão e alguns amigos, o possível significado da minha herança asiática, e como os nossos traços não-caucasóides poderiam significar parte na maldição divina refletida na crença Mórmon (defendida pelo então Presidente da Igreja Spencer Kimball) de que “as ilhas do Pacífico” haviam sido colonizadas por Lamanitas.

Grupo Musica da BYU na década de 1970, capitalizando em estereótipos racistas de Ameríndios, Mexicanos, e Polinésios

Grupo Musica da BYU na década de 1970, capitalizando em estereótipos racistas de Ameríndios, Mexicanos, e Polinésios

Esta crença, popular entre as Autoridades Gerais até o final do século XX, tem sua origem na estória de Hagote, como narrada no Livro de Mórmon. Em diversas ocasiões, Spencer Kimball deixou bastante evidente de que “o Senhor os chama de Lamanitas” e que gozavam da mesma herança espiritual e sacerdotal que os Judeus do “povo escolhido”, mas que também sofriam das mesmas maldições que teriam afligido seus antepassados das escrituras — incluindo-se a maldição dos traços genéticos raciais.

Eu me recordo, ainda uma criança na Primária, quando ouvi alguém lendo este discurso por Spencer Kimball:

“Eu tenho visto um impressionante contraste no progresso do povo indígena hoje em dia… O dia dos Lamanitas está chegando. Por anos eles vem se tornando deleitosos, e agora estão ficando brancos e deleitosos, como prometido. Nesta foto de 20 missionários Lamanitas, 15 dos 20 eram tão brancos quanto os Anglos; 5 eram mais escuros, mas igualmente deleitosos. As crianças adotadas em lares de Utah são geralmente mais claras que seus irmãos e irmãs nas reservas indígenas. Em uma reunião, um pai e mãe estavam presentes com sua filha de 16 anos, e a jovem moça membro da Igreja — de 16 anos — sentada entre os pais escuros, e era evidente que ela já tinha tons mais claros que seus pais — na mesma reserva, na mesma casa, exposta ao mesmo sol e vento e clima. Havia um médico numa cidade de Utah que por 2 anos alojou um jovem índio em sua casa que testemunhou que o rapaz já estava vários tons mais claro que seu irmão recém-chegado da reserva ao programa de adoção. Estes jovens membros da Igreja estão mudando para brancos e deleitosos. Um jovem élder jocosamente disse que ele e seu companheiro estavam doando sangue regularmente no hospital com a esperança de acelerar o processo.” — Spencer Kimball (Conferência Geral, Outubro 1960)

Eu imagino que a pessoa lendo este discurso acreditava que a mensagem principal nele era de que Deus sempre abençoa Seu povo, assim como estava abençoando os Lamanitas (i.e., os Ameríndios). Eu, porém, internalizei que a mensagem principal era que Deus amava os brancos e castigava os iníquos com peles não brancas. Pessoalmente, me tardou preciosos anos (décadas) para assumir a minha herança genética asiática. Como fenotipicamente não aparento pertencer a nenhuma das duas raças com qualquer semblança de clareza, sempre me foi mais fácil me assumir como “branco”, sempre me foi mais razoável me identificar com os personagens históricos (e fictícios) “brancos” do que os “asiáticos”. E isto apesar de ter forte laços familiares com meus parentes japoneses e não com os meus parentes luso-brasileiros.

Crescendo na Igreja, eu certamente incorporei um certo grau de”ódio próprio” por causa de minha raça asiática e aceitei o “racismo internalizado” que me havia sido imposto culturalmente. Apenas uma compreensão madura e consciente deste legado cultural me forneceu a oportunidade de desvencilhar-me deste nefasto ciclo vicioso.

Recentemente, num discurso para as comemorações do Dia dos Pioneiros de 2010, o então Historiador Geral da Igreja Marlin K. Jensen (Primeiro Quórum dos Setenta) admitiu o problema de racismo contra Ameríndios, confessando que “…[eles] frequentemente se depara[m] com preconceito e intolerância – mesmo dentro da Igreja.”

"...[Ameríndios] frequentemente se depara[m] com preconceito e intolerância - mesmo dentro da Igreja." -- Marlin K. Jensen

“…[Ameríndios] frequentemente se depara[m] com preconceito e intolerância – mesmo dentro da Igreja.” — Marlin K. Jensen

Quem acredita, hoje, que Deus é racista? Ninguém. Quem acredita que racismo é uma atitude tolerável ou ética? Quase ninguém. Não obstante, profetas e Apóstolos do passado eram claramente racistas. É possível, até, que alguns do presente também o sejam, mas cientes de que racismo é uma característica universalmente (e justamente) detestável, estes comentários preconceituosos já não se ouvem mais em público. É possível, também, que muitos dos profetas e Apóstolos do presente tenham aprendido com os erros dos seus antecessores e abandonado as ideações raciais e supremacistas. Pode-se argumentar assim, que nos dias de hoje, não há mais racismo no Mormonismo.

Infelizmente, isto não é a realidade, como o próprio Jensen, uma Autoridade Geral com credenciais inquestionáveis, admite. Os textos racistas permanecem no canone oficial da Igreja. As Autoridades Gerais da Igreja não se distanciam claramente das interpretações racistas das obras padrões e se recusam a alegorizar ou contemporizar narrativas que instigam o preconceito e a intolerância (sem falar na ridícula incompatibilidade científica). Esta covardia moral de enfrentar, aberta e honestamente, os erros do passado apenas incentivam o racismo velado na cultura popular.

Consideremos a questão do racismo contra Negros. Por mais de um século a Igreja SUD institucionalizou abertamente seu racismo contra Negro. Em 1978 esta prática de segregação racial foi suspendida, mas a imoralidade de mante-la por 13 décadas nunca foi abordada ou discutida. No ano passado, a Igreja publicou um ensaio que serviria de reflexão sobre esta mancha ética na história da Igreja que, por sua natureza superficial, tímida e semi-escondida, mais aparenta uma pirueta de relações públicas do que uma discussão séria e coletiva. Tão escondida, diga-se, que uma busca pela internet mais rapidamente encontra estas citações do profetas Mórmons do passado sobre Negros do que o ensaio em questão:

“Veja que algumas classes da família humana são negras, rudes, feias, desagradáveis e de hábitos ruins, selvagens, e aparentemente desprovidos de quase todas as bençãos da inteligência que é doada à humanidade…. o Senhor colocou a marca em Caim, que é o nariz achatado e a pele negra. Rastreie a humanidade até o Dilúvio, e então outra maldição foi imposta à mesma raça — que eles seriam ‘servo dos servos’; e assim serão até que a maldição lhes seja removida.” — Brigham Young (JD 7:290)

“E depois do Dilúvio sabemos que a maldição pronunciada sobre Caim continuou-se através da esposa de Cão, pois este casou-se com uma mulher daquela linhagem. E por que passou-se a maldição adiante depois do Dilúvio? Porque era necessário que o Diabo tivese um representante na Terra, assim como Deus.” — John Taylor (JD 22:604)

Como cresce, hoje, um jovem Negro na Igreja SUD lendo os ensinamentos racistas nas obras padrões contra sua própria raça e contra Ameríndios? Angustiado pela crescente dissonância cognitiva alimentada pelo racismo internalizado, este jovem busca respostas na literatura de sua fé, apenas para encontrar estes comentários racistas de seus profetas venerados, e no site oficial da Igreja apenas um curto ensaio anônimo superficial e vazio de significado (se, por acaso, o achar). Como não desenvolver ódio próprio, lutando com malabarismos internos entre manter sua fé e aceitar sua identidade racial?

Negros e Ameríndios não são as únicas classes dentro do Mormonismo a sofrer com o preconceito e a marginalização coletiva (e institucional). Mulheres e homossexuais passam por processos de conflitos internos e ostracismo social muito similares. Estas sofrem com o mesmo mecanismo psicológico de ódio próprio e preconceito internalizado, imposto nelas pela pressão social e religiosa.  O problema é tão intenso que taxas de depressão entre mulheres e suicídios entre jovens (especialmente homossexuais) em Utah são as mais altas nos EUA.

Não obstante, o problema racial é muito mais óbvio por ser mais explícito na literatura e na prática social, além de ser mais condenada (e menos aceita) pela sociedade em geral. A raíz destes problemas é a mesma, e possívelmente suas soluções também serão muito parecidas. O mesmo preconceito e intolerância que incentiva o racismo, incita a homofobia e estimula a misoginia. Infelizmente, há um longo caminho ainda para se corrigir e superar os erros do racismo no Mormonismo, que dirá dos demais.

 

Três irmãos Sioux saindo para servir como missionários SUD. Quem acha que eles ficarão brancos e loiros se forem mais fiéis?

3 irmãos Sioux saindo para servir missão SUD. Quem acha que eles ficarão brancos se forem mais fiéis?

Quem acha que esse jovem foi "menos valente" na vida pré-mortal?

Quem acha que esse jovem missionário foi “menos valente” na vida pré-mortal? Ou que ele herdou a “maldição de Caim”?

Quem acha que essa missionária foi "menos valente" na vida pré-mortal?

Quem acha que essa jovem missionária nunca poderia exercer liderança na Igreja?

 

 

 


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Apóstolos Mórmons no Twitter

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Nesta semana, 14 dos 15 Apóstolos Mórmons abriram contas pessoais no Twitter. Além das páginas oficiais de líderes da Igreja SUD gerenciadas pelo Departamento de Relações Públicas, como a página de Thomas Monson no Facebook, estes líderes eclesiásticos passarão a manejar suas próprias contas nesta rede social.

O primeiro a estrear sua conta foi Russell Ballard:

Uma porta-voz da Igreja, Jessica Moody, descreveu a súbita e coletiva ação como uma tentativa para se aproximar das gerações mais jovens:

“Além das páginas oficiais no Facebook e no Google+ que a Igreja vinha gerenciado para eles há algum tempo, estes líderes idosos começaram a usar o Twitter para compartilhar suas próprias palavras, pensamentos e ensinamentos. O tweet do Elder Ballard é o primeiro a ser compartilhado, mas outros líderes da Igreja estarão usando o Twitter no futuro próximo. Este é mais um passo que líderes da Igreja estão dando para usar mídias sociais para compartilhar o evangelho e comunicar com o mundo.”

A adoção coletiva sugere a existência de uma deliberação e decisão conjunta e específica para aumentar a visibilidade e conectividade de uma liderança (percebida como) geriátrica com a juventude da Igreja. Posto lado a lado com outras decisões recentes, esta decisão reforça a sugestão de preocupação no alto escalão Mórmon com retenção de jovens na Igreja.

Russell Ballard abordou justamente esta questão de hiatos geracionais:

“Eu tenho ouvido que algumas pessoas acreditam que os líderes da Igreja vivem numa bolha. O que elas esquecem é que somos homens e mulheres de experiência, e que vivemos nossas vidas em tantos lugares, trabalhamos com tantas pessoas com experiências diferentes. Nossas presentes designações no levam literalmente através do globo, onde nos encontramos com líderes políticos, religiosos, corporativos e humanitários do mundo… Vivemos menos numa bolha que a maioria das pessoas. Outros dizem que somos velhos demais. Bom, é verdade que 9 de nós temos mais de 80 anos de idade. Eu tenho 85. Contudo, … a sabedoria combinada dos Irmãos deveriam lhes providenciar um pouco de conforto. Nós já passamos por tudo. Não estamos fora de contato das coisas da vida.”

Nos resta, agora, acompanha-los para ver se realmente estarão compartilhando um pouco de si nesta rede social, ou se apenas passarão o controle de suas contas para profissionais de relações públicas, como é feito em suas outras contas. O fato de todos terem o mesmo layout não é um sinal promissor…

Em 2011, havíamos especulado sobre a possibilidade do presidente Thomas S. Monson ter sua conta no Twitter, a exemplo de outros líderes religiosos mundiais como o Dalai Lama e Bento XVI, o que parece hoje mais possível de acontecer.

Eis as contas dos 14 Apóstolos SUD no Twitter:

  1. @Boyd_K_Packer
  2. @L_Tom_Perry
  3. @RussellMNelson1
  4. @Dallin_H_Oaks
  5. @M_RBallard
  6. @Richard_G_Scott
  7. @Robert_D_Hales
  8. @J_R_Holland
  9. @Henry_B_Eyring
  10. @D_F_Uchtdorf
  11. @David_A_Bednar
  12. @Quentin_L_Cook
  13. @DTChristofferson
  14. @Neil_L_Andersen
Apóstolos Mórmons no Twitter. Nada diz "conta pessoal" como manter o mesmo layout idêntico para todos os catorze homens!

Apóstolos Mórmons no Twitter: Nada diz “conta pessoal e individual” como manter o mesmo layout idêntico para todos os catorze homens brancos e idosos!

Russell Ballard Estréia Twitter Para Apóstolos Mórmons.

Russell Ballard Estréia Twitter Para Apóstolos Mórmons.

 

 

 

 


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Igreja Doando Aos Sem-Teto

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A Igreja SUD anunciou  uma parceria com outras organizações religiosas e ONGs comunitárias na região de Ogden, Utah, além do Estado de Utah e outras fundações privadas para melhorar as condições habitacionais de famílias sem-teto.

Latern Homeless Shelter

A Igreja publicou a sua doação total em USD 1,5 milhões destinados à construção da Casa da Lanterna, uma instituição destinada a abrigar famílias sem-teto e mante-las juntas. A cerimônia de abertura das obras ocorreu em 22 de abril p.p., com a presença de representantes de todas as organizações contribuintes, incluindo autoridades de Igreja SUD. A doação da Igreja já havia sido prometida no primeiro semestre de 2011 como uma parcela significativa dos esforços da ONG Centro de Santa Anna para levantar os fundos necessários para a construção deste novo centro. Agora que os fundos totais de USD 7 milhões foram arrecadados, iniciou-se a construção física.

Líderes comunitários vinculados ao Centro Para Sem-Teto de Santa Anna não economizaram em seus elogios públicos à Igreja SUD, tanto na época de sua doação em 2011, como durante a cerimônia de abertura de obras no mês passado.

Lantern House Rendering

Desenho do projeto final com previsão para abrir em 2015.

Ron Frost, presidente do conselho da ONG foi efusivo: “Com o apoio [da Igreja SUD] todo o resto da comunidade abraçou o projeto. [Ela] foi muito generosa conosco.”

Pamela Atkinson, representando o Governador de Utah, elogiou o senso SUD de comunidade: “Esta é uma real colaboração. O que vemos aqui é um grupo de pessoas juntando-se por uma causa comum. É um verdadeiro exemplo de parceria focada em ajudar nossos amigos sem-teto a lhes dar uma chance para terem êxito”.

Reverendo John C. Wester, um dos líderes comunitários de Santa Anna, prestigia cerimônia de lançamento da campanha

Reverendo John C. Wester, um dos líderes comunitários de Santa Anna, prestigia cerimônia de lançamento da campanha de arrecadação de doações

O prefeito da cidade de Ogden laudou a Igreja explicitamente: “Eu especialmente gostaria de agradecer a Igreja SUD por se voluntariar com uma enorme contribuição para ajudar a dar início e fazer isto acontecer. Ela foi instrumental para criar uma animação e mometum em tôrno desta campanha.”

Numa possível tentativa para engajar a maioria Mórmon local, a ONG de origem numa coalição de igrejas Cristãs não-Mórmons decidiu, quando debatendo a construção do novo e expandido instituto, alterar seu nome distintamente religioso de “Santa Anna” para um mais genérico “Casa da Lanterna”. A publicidade positiva certamente ajuda a Igreja SUD, sendo fartamente aproveitada por seu Departamento de Relações Públicas, numa fase onde escrutínio sobre suas finanças costuma gerar reações públicas negativas.

Recentemente, um painel investigativo das Organizações das Nações Unidas levantou, entre outras coisas, os custos em doações humanitárias globais da Igreja SUD para o ano de 2013: USD 84 milhões.

Chefes de campanha Allan and Kay Lipman, esq., e Diretora Executiva do Santa Anna Jennifer Cantor posam para foto publicitária “recebendo” um cheque de USD 1,5 milhões do Diretor de Assuntos Temporais da Igreja SUD.

Este valor é, certamente, um valor alto (e bastante apreciado) e muito melhor que a média anual da própria Igreja SUD entre 1985 e 2010 (USD 46 milhões), mas que não deixa de representar apenas 1% da renda anual estimada de dízimos estimada em USD 7 bilhões anuais e muito, muito, muito menos que 1% de toda renda anual estimada dos investimentos corporativos da Igreja. Somando-se à estas receitas multi-bilionárias e secretas sagradas, a construção recente de um shopping center de luxo estimado em USD 5 bilhões, e a percepção pública da Igreja tende a não lhe ser generosa.

Pode-se, assim, contabilizar esta recente contribuição caridosa como um excelente investimento em relações públicas, com forte exposição positiva na mídia, provavelmente mais barata que a campanha publicitária em planejamento, e certamente mais positiva.

 

 

 


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Apóstolo Dallin Oaks Ofende Neozelandeses

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Texto por Gina Colvin

Dallin OaksDurante a Conferência Geral de Outubro de 2010, o Apóstolo Boyd K. Packer fez alguns comentários controversos. Primeiramente, ele afirmou que a Proclamação da Família era fruto de revelação. Depois, ele sugeriu que homossexualidade não é congênita, ao exclamar:

“Alguns supõe que eles foram predefinidos e não podem superar o que crêem ser tendências congênitas pelo impuro e antinatural. Não é verdade! Por que o Pai Celestial faria isso com alguém? Lembrem-se, Ele é nosso Pai Celestial.”

Debates se sucederam e logo após o texto publicado do discurso de Packer leria apenas que a Proclamação é um “guia” ao invés de revelação, enquanto que a citação proferida acima foi alterada substancialmente:

“Alguns supõe que eles foram predefinidos e não podem superar o que crêem ser tentações congênitas pelo impuro e antinatural. Não é verdade! Por que o Pai Celestial faria isso com alguém? Lembrem-se, Ele é nosso Pai Celestial.”  (repare na ênfase)

Esta é a beleza da Conferência Geral. Porque todos os olhos estão voltados para o Centro de Conferências, os discursos são construídos com maior cuidado em grande parte porque a mídia está observando, assim como toda a Igreja – o que significa que há todo um cuidado especial para evitar criar controvérsias públicas.

Na Nova Zelândia tivemos hoje (18/05/2014) uma Transmissão de Conferência Regional. Estas ocorrem bienalmente no lugar de uma Conferência de Estaca. A sessão do Domingo de manhã inclui o voto de apoio para os líderes da Estaca, um discurso pelo Presidente da Estaca seguido de uma transmissão simultânea de Lago Salgado para todas as Estacas e Distritos do país.

Dallin Oaks, do Quórum dos Doze, discursou primeiro. Diferentemente dos discursos da Conferência Geral, nada de seu discurso será editado para uma edição final. Na verdade, ele deixou muitos de nós com um gosto ruim em nossas bocas. Talvez a falta de cuidado com nossos sentimentos tenha algo a ver com a impressão de que Mórmons no “campo missionário” (i.e., longe do país-sede) são menos sofisticados. Ou talvez porque não temos uma mídia francamente interessada o suficiente na Igreja para lhe prestar muita atenção e causar-lhe problemas? De qualquer modo, o Élder Oaks parece ter usado esta liberdade de escrutínio crítico para se permitir um discurso inflamado e invectivo, recheado de máximas preconceituosas e porcamente construídas; mais notávelmente sobre casamentos homossexuais. Ademais, ele discorreu sobre a necessidade de todos bons Mórmons adquirir qualificações educacionais formais, e para que escolas se abstenham de ensinar educação moral e cívica às crianças. Infelizmente, não costumamos ter acesso aos textos publicados dos discursos de conferências regionais, então dependo aqui das anotações de presentes para relatar os pontos principais do seu discurso:

  1. O debate nos EUA sobre fé, família e liberdade é tão relevante na Nova Zelândia.
  2. Não há outra definição de casamento além do prescrito pela Proclamação da Família – mesmo onde a lei civil o permite.
  3. A Igreja é centrada na família e enquanto o mundo esteja confuso sobre o que isso signifique ‘NÓS’ não estamos.
  4. Mudanças na lei civil não alteram o plano de Deus ou o que Ele espera de nós.
  5. Casamento tradicional é uma instituição social vital.
  6. Não pode haver substitutos para um pai e uma mãe biológicos.
  7. É nosso dever religioso adquirir qualificações formais.

Por quê Oaks gostaria de cutucar este vespeiro específico aqui onde nenhuma vespa está, diga-se, segue sendo um mistério. Talvez estivesse irritado com os Mórmons da Nova Zelândia por não se importarem com a questão de casamento homossexual tanto quanto ele óbviamente se importa. De qualquer modo, luzes vermelhas começaram a piscar por todo lado, gerando muita indignação e muitas reações do tipo “como ele se atreve”?

Embora não seja preciso muito para me tirar do sério, quando pessoas boas e tranquilas (aquelas que geralmente não causam fuzuê) começam a resmungar de desgosto, é porquê a situação está realmente preocupante. Portanto, achei que seria mais relevante usar a próprias palavras delas para ilustrar os sentimentos coletivos:

Tímida Ina, 30 anos: “Depois que ele disse isso, eu perdi interesse em toda a conferência porque eu me pus no lugar do meu irmão, que é gay, e eu me senti como se ele tivesse me ralhado – então, eu passei a jogar no meu celular.”

Ruth, 49 anos:  “Sabe o que ficou faltando no seu discurso? Amor. Comparando com o discurso do nosso Presidente de Estaca, que foi tão cheio de amor, eu senti que nós fomos esculhambados pelo Élder Oaks, dizendo-nos ‘como tem que ser’ – sem qualquer compaixão.  Ele estava cheio de absolutos – e sem nenhum amor.”

Regan Paul, 18 anos, a 3 dias de sair em missão para Londres, Inglaterra, e que arrastou toda sua família (inativa) para compartilharem juntos seu último Domingo na Nova Zelândia: “Eu me senti muito desconfortável com as coisas que o Élder Oaks disse, porque não havia nada de amoroso. Minha família falhou completamente, de acordo com a sua contagem. Minha cunhada me perguntou se a Igreja era sempre assim. Eu simplesmente não acredito que este discurso não os ajudou a retornar à Igreja.”

Emma Lafaele, 16 anos: “Eu me senti um pouco desapontada com ele. Eu estava ansiosa pela Conferência de Estaca e o discurso do Presidente de Estaca foi ótimo, e aí veio o Élder Oaks – bom, foi uma decepção.”

Anne (nome alterado), 49 anos:  “Eu estava com a minha filha ao meu lado, que é lésbica, então eu fiquei preocupada com o que lhe estaria passando na cabeça. Eu amei o discurso do Presidente da Estaca. Mas você tem que ter sensibilidade com as diversidades familiares e onde se encontram as pessoas em suas vidas. Eu espero que minha filha mude, mas eu acho que isso não lhe ajudará simplesmente por não ser amoroso.”

Raylene, 53 anos e presidente da Sociedade de Socorro:  “Eu realmente gostei dos seus conselhos para os jovens mas eu não gosto destas transmissões no geral. Eles não são sobre nós – são genéricos demais. O ponto alto foi o discurso do nosso Presidente de Estaca. Foi exatamente o que a nossa estaca precisava ouvir. Eu acho que o Élder Oaks é um bom homem e que ele está tentando sinceramente, mas ele já é um idoso e não o quero criticar. Mas as pessoas não devem vir à Igreja para se sentir atacadas ou humilhadas, ou ditas que ali não se encaixam.”

Rex (nome alterado), 49 anos:  “Eu entendo a tensão em retratar uma família idealizada, mas há o real perigo quando se foca em uma única imagem específica. Assim há a tendência de afastar, alienar, ou fazer sentir-se inadequados todos aqueles que não se encaixam no padrão normativo. Eu fiquei chocado, pra ser sincero. Eu geralmente gosto dos seus discursos, mas este me pareceu muito repentino. [E sua orientação para educação formal] ignora o contexto geral de auto-aperfeiçoamento, que não é necessariamente atrelado à educação formal.”

Ebony, 29 anos: “Outras pessoas podem ter outras prioridades ou razões para não buscar uma educação formal. Optar por uma carreira sem educação específica em determinado momento não significa fracassar, mas sim é uma decisão cuidadosa. Minha irmã foi queimada num incêndio e passou anos se tratando de suas queimaduras. Ela não é uma fracassada simplesmente por não ter conseguido terminar sua educação formal.”

Meu próprio marido, que é razoávelmente ortodóxo: “O que mais me chamou atenção foi a afirmação de que não pode haver substitutos para pais biológicos. Meu pensamento imediato foi que, se isso realmente fosse verdade, então porquê os Serviços Sociais SUD promoveriam adoções ao invés de pais solteiros biológicos? É simplesmente incongruente. Eu também me senti, enquanto pai adotivo – estaria ele sugerindo que as crianças que nós estamos criando estariam melhor com seus pais biológicos?” (Nossos filhos adotivos foram removidos de seus lares originais por causa de severa negligência paternal).

No final das contas, os discursos recheados de compaixão e amor proferidos pelos líderes locais nas conferências de estacas sobre inclusão, construir comunidades e buscar compreensão mútua foram pontuados por uma voz distante e truculenta que atingiu nossos ouvidos, mas não tocou os nossos corações. Se eu tivesse uma caneta vermelha e fosse pedida para editar o discurso do Élder Oaks, eu teria riscado tudo antes, entre, e depois das palavras “amor” e “respeito”. Certamente, não é isso que realmente importa?

 

 

Kiwimormon-about-photoTexto original por Gina Colvin, sob título ‘Reflexões sobre a transmissão da Conferência Regional na Nova Zelândia: Porquê Censura Pode Ser Necessária’. Reproduzido com permissão. Citado no The Salt Lake Tribune.

 

 

 

 


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